Hermano Roberto
Thiry-Cherques
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
Aesperançacristãédiferente:é
umaalienaçãodo futuroaos desígnios
divinos. Éescatológica (
taéskhata
=as
terminações), éa fénasalvação, na
Parusía
, na segunda vindadeCristo,
no final dos tempos, quandoSatanás
será, afinal, derrotado.
Paraoshebreus, por exemplo,
aesperançaéaesperançadeque
Deuscumpraoprometido: odestino
de glória, que Jeovágarante quando
mandaqueAbraão se afaste dos
seuseconstitua Israel comonação.
GRANDESRELIGIÕESEESPERANÇASDIFERENTES
)
)
A
esperança, lembrou Voltaire, é o
único privilégio negado a Deus. A
produção, oferta e consumo de es-
peranças é algo que só diz respeito
aos mortais. Compramos e vende-
mos esperanças a todo momento
porque não somos oniscientes. Al-
gumas vezes nos enganamos. Ou-
tras, nos deixamos enganar. A pro-
pagaçãodaesperança, que sabemos
falsa, é uma transgressão moral.
Sobre isto não há dúvida. A dificul-
dade ética do marketing da espe-
rança é de outra ordem: reside em
saber se quando vendemos espe-
ranças, mesmo esperanças legíti-
mas, estamos fazendo o bem ou
estamos fazendo o mal.
Seria fácil resolver esta questão re-
correndo à filosofia clássica. Mas
nem sempre é possível transpor para
a nossa época o pensamento dos
antigos. A palavra grega
elpís
, que
se traduz como esperança, como o
spen
do latim, significa, simultanea-
mente, previsão, conjectura e preo-
cupação. Para os gregos, viver signi-
ficava agir, pensar e esperar. Mas
esperar é diferente de ter esperança.
Éprecisonãoconfundir osdois con-
ceitos. Platão diz que a alma é for-
mada pela sensação, pela memória
e pela esperança; o presente, o pas-
sado e o futuro. A parte futura da
alma tem esse esperar –oqueespe-
ramos que venha a ser – mas não
temaesperança.Porqueaesperança
é semprepresente. Elaéo futurode-
sejado.Quandoagimosmal, vende-
mos o futuro improvável.
Osclássicosnãonosajudama saber
se a esperança éboaou ruim. Além
da confusão entre esperar e ter es-
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