Julho_2006 - page 93

Hermano Roberto
Thiry-Cherques
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
um sujeito intragável. Foi um solitá-
rio. Não tinha amigos e detestava a
própriamãe,umabruacaaquemnão
dirigia a palavra. Deixou uma obra
magnífica chamada: “O Mundo
comoVontade e Representação”. Lá
estáditoqueavidacostuma ser uma
busca sem fimpela realizaçãode es-
peranças. Para sustentar essa teoria,
Schopenhauer tomou emprestada de
Kant a idéia de que omundo é uma
criação da nossamente. Que as coi-
sas-em-si mesmas não podem ser
apreendidas pelo espírito. Ele pode
apenas representar, idear a exterio-
ridade. Essaéaprimeiraparteda teo-
ria: aquilo que chamamosmundo, o
que está fora de nós, é uma repre-
sentaçãodanossamente. A segunda
parte équedentrodenós existe algo
queconhecemosde fato:anossavon-
tade,osnossosdesejos,osnossosape-
tites, o nosso amor, o nosso ódio, as
nossas esperanças, enfim.
Nãohá razãoedepoisdesejo.Oque
há é desejo e a racionalização do
desejo, que chamamos razão. E a vi-
da éuma vontade sem fim, porque a
razão, o intelecto, cansa, se exaure,
masavontadenuncasecansa,nunca
paramos de ter vontades, de ter es-
peranças. A vida é um círculo vicio-
so de esperança, sofrimento e tédio:
representamos omundo e para essa
representação dirigimos nossa von-
tade. Podemos ou não satisfazê-la;
senãoa saciamos, elacontinuaexis-
ParaKant omundo éuma criação
danossamente. Queascoisas-
em-simesmasnãopodemser
apreendidaspeloespírito.
)
Dantecolocounaportado Inferno:
Lasciateogni
speranza, voi ch’entrate
. Na traduçãoemportuguês
daobra issosignifica: “Àquelequepor essaporta
entrar, deixea esperançado ladode fora.”
)
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