Julho_2006 - page 95

Hermano Roberto
Thiry-Cherques
105
M A I O
/
J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
juntaraela.Opoemachama-se“
The
Blessed Damozel
”. É extraordinário,
porqueRossetti,queera inglêsapesar
donome, foi, alémdepoeta, umpin-
tor. No poema, ouvimos sobre essa
virgem, que pode ser vista em um
quadroqueestánoFoggArtMuseum,
deCambridge. Elaémuito linda, tem
a beleza tranqüila de quem espera e
confia. É feliz, mas de uma feli-
cidade que, estranhamente, é per-
feita mas não é completa. Está no
Paraíso,
in heaven
, e tem a aura da
felicidade,
the stars inher hairswere
seven
, mas lhe falta o bem amado.
Sabemos que elenão irá ter com ela,
porqueéumpecador, eospecadores
nãopodem ir paraoParaíso.Mas ela
não sabe disso. Então imagina como
será quando se encontrarem. Rossetti
nos mostra como a esperança feliz é
fruto da ignorância, porque se co-
nhecermos o futuro toda esperança
será descabida, e sem esperança
seremos infelizes.
Estaesperançade saber o futuro, que
desde sempre acompanha a huma-
nidade,éumaesperançasingular.Ex-
prime o único desejo que conheço
que aspira não ser satisfeito. Mas é
esta esperança que redime a difi-
culdade ética de saber se consumir-
mos e vendermos esperanças é bom
ou é ruim. Mostra que, em geral, é
preferível tê-la e cultivá-la. Por isto,
é uma dádiva que as ciganas conti-
nuem a ler o destino nas mãos, que
os escritos de Nostradamus estejam
disponíveis e que algumas senhoras
climatéricas possam interpretar con-
venientemente nas conjunções do
zodíaco o que vai nos acontecer
amanhã.Devemos ser gratosaospla-
nejadores estratégicos, aos marque-
teirosemgeral, aoseconomistas,que
estudam muito para conseguirem
agourarpartindodosalgebrismosque
trazemnacabeça.Nãoacertamcom
o futuro,mas fazemumbemenorme
à humanidade: dão-nos a esperança
profética. Pouco importa que as suas
antevisões só se realizem por acaso.
Porqueo sistemaécircular: as transa-
ções com a esperança são neces-
sárias à renovação da esperança. O
comércio de esperanças talvez não
seja incorreto. Ele é propiciatório da
felicidade, ainda que de uma felici-
dade infundada.
AESPERANÇA
HERÉTICA
Compramos e vendemos esperan-
ças. Mas nem só o marketing vive
de esperanças. Vaihinger, um fic-
cionista kantiano já esquecido,
construiu toda uma obra para de-
monstrar por que todosprecisamda
esperança. Explicou que vivemos
nomundo do “como se”. Amamos
como se o amor fosse eterno, nos
Esta esperançade saber o
futuro éuma esperança
singular. Exprimeoúnico
desejoqueconheçoque
aspiranãoser satisfeito.
Por isto, éumadádivaque
asciganascontinuema
ler odestinonasmãos,
queosescritosde
Nostradamusestejam
disponíveisatéhoje.
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