Julho_2006 - page 99

Hermano Roberto
Thiry-Cherques
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
nascimento e a morte, gera outros
infelizes; um cadáver adiado que
procria. Temos aqui, aomesmo tem-
po, a esperança como o vício da in-
sensatez e da sem razão, e a es-
perança como a virtude da vida.
AESPERANÇA
INSENSATA
Por que a esperança seria uma in-
sensatez? Presumo que por medo de
um tipo de esperança que, de fato, é
terrível. Quemmelhor a retratou foi
Auguste Villiers de L’Isle-Adam. Ele
nos deixou uma série de contos, os
Contes
Cruels
, muito interessantes.
Emumdeles, contaahistóriado rabi
Abarbanel. Nós encontramos o rabi
quandooGrande Inquisidor deSara-
goça e outro dominicano entram em
sua cela. Abarbanel havia resistido à
série das torturas de praxe para que
abjurassea sua fé, e jazemumcanto,
exausto.Os padres anunciamqueno
dia seguinte ele será submetido ao
quemadero
. O
quemadero
era uma
espécie de assador, emque a pessoa
ficava suspensa por correntes acima
das brasas até morrer. O Inquisidor
diz que ele deve se alegrar, porque
estará liberto da vida terrestre, e que
nas três ou quatro horas que arderia
até sucumbir, teria tempodemeditar
sobre os seus pecados e preparar-se
paraoencontrocomoEspíritoSanto.
Ospadresdãoobeijoeoabraçoque
selama sentençaevãoembora.Dei-
xam o rabi na sua agonia. Ele fica
tãodesesperadoque levaalgum tem-
poparadescobrirqueaportadacela
Por quea esperança seriauma
insensatez?Presumoquepor
medodeum tipodeesperança
que,de fato,é terrível.Quem
melhor a retratou foi Auguste
VilliersdeL’Isle-Adam.
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