Humanismo: o segredodas empresasperenes
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
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vamde“daimo” (lê-sedemo), foi trans-
formadapelaIgrejaemforçademoníaca.
Acimade tudo, emborahajaquemnão
concordecoma tese, a Igrejanãopodia
admitirqueo indivíduobuscasseaver-
dadenointeriordesimesmo.Osquenão
concordam com isto dizem que afinal
foramosmosteirosquepreservaram,na
idademédia,ospergaminhosherdados
da cultura greco-romana. Esta ruptura
não ocorreu noOriente e essa, talvez,
seja a maior vantagem que os povos
orientais têm hoje sobre nós, cidadãos
doOcidente.
Mas ao longo dos séculos, o subcons-
cientehumano jamaisesqueceuavisão
humanista domundo. Muitos pensa-
doresregistraramsuaconcepçãodeum
mundo ideal com igualdade,harmonia
e justiçaparatodos.A“Utopia”,deTho-
masMorus, influiunopensamentodasgerações
seguintes e deu origem amuitas tentativas de
sociedadeformadasàsua imagemesemelhança.
O próprio pensamento dos economistas clás-
sicos jamaisdeixoude ladoopapel daéticana
economia. Em obra recente
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, o professor Edu-
ardoGiannetti mostrou que Adam Smith faz
pelomenos uma referência ao papel social da
atividadeeconômicaeosseussucessorespreo-
cuparam-seaindamaiscomestepapelsocialda
economia. No entanto, ainda conformeGian-
netti, houve uma virada brusca nos rumos da
teoriaeconômica,principalmentenoséculoXX,
sob a égide deMandeville eMilton Friedman
que pregaram o que chamavam de “egoísmo
ético”. Segundoeles, amelhormaneirade ser-
vir a sociedade seriaatravésdaacumulaçãode
riquezasembenefíciopróprio.Quandomuitos
empreendedores fazem omesmo, o resultado
seria o benefíciopúblico. Na famosa escola de
Chicago, Friedman defendeu a necessidade
de se estimular a acumulação individual de
riquezaspormeiode leise regulamentos com-
placentes que não tolham a liberdade de ação
doempreendedor quebuscao lucro.
O resultado, todos conhecem. Os empreende-
dores se transformaram em especuladores e
destruíramempoucosanosasbasesdo sistema
financeiro capitalista. Como é natural haverá
agora uma reação ética que tentará trazer de
volta a confiança perdida, incorrendo, no en-
tanto, nos excessos do extremo oposto que é a
participação exagerada do Estado na condução
da economia.Mas, abemda verdade, épreciso
lembrarquemuitoantesdisso jáhavia, em todo
omundo, movimentos que tentavam trazer de
volta o sentido ético e social da acumulação de
riquezas, pregando a responsabilidade social, a
preocupação com o futuro do planeta e –mais
recentemente–osprincípiosdasustentabilidade
eda interdependência.
OOrientemanteve-se fiel
aohumanismooriginal
Para os economistas clássicos, a ética era um
pré-requisito fundamental para o sucesso dos
negóciosa longoprazo.Mas, conformeassinala
Eduardo Giannetti (obra já citada), o primeiro
grandeeconomistaadestacar os valoreshuma-
nistas, como razão principal do sucesso econô-
mico, foi o inglêsWilliamPetty, no séculoXVII.
Defendendoa tesedequenãoéo tamanhodas
nações que permite a acumulação de riquezas,
PettycitouoexemplodapequenaHolanda, que
naépoca rivalizava comaFrança, embora fosse
incomparavelmentemenor.Comorazãodarique-
zaholandesa,Pettycitouorespeitoàsdiferenças
queatraía, paraaHolanda, refugiadosde todaa
Europa, o sentido de justiça e igualdade social,
oscostumesfrugais,orespeitoaotrabalhoárduo
e a liberdade religiosa. Os holandeses fizeram
dessesprincípiosabasedeseusucessomercantil.
Modernamente,sãomuitasasevidênciasdarela-
ção entre valores éticos e sucesso empresarial, a
começarpelaconhecida“éticaprotestante”deMax
Weber.Entrenós jáexistemestudosquecompro-
vamqueasempresasconsideradascomosendoos
melhoreslugaresparasetrabalharsãotambémas
mais lucrativas, principalmentequandoestãono
setordeserviços,ondeaqualidadeemotivaçãodo
elementohumanosão fundamentais.
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