julho/agostode2013|
RevistadaESPM
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Arnaldo
— As universidades estão
conseguindo acompanhar essas
mudanças sociais?
Lu í s
—
A lgumas se dest acam,
sim. Aquelas que continuam para
trás são as que se mantêm dentro
dos currículos clássicos.
Arnaldo
— Quais são as escolas que
têm mostrado maior capacidade de
alocação no mercado de trabalho?
Luís
—
O mercado de trabalho bra-
sileiro é muito amplo. Se olhar-
mos de maneira quantitativa, pro-
vavelmente as universidades que
mais colocam profissionais no
mercado são as que mais formam
pessoas. Se segmentarmos pelos
grandes programas de trainee,
vão se destacar aquelas que não
necessariamente têm grande vo-
lume de alunos, mas são as mais
tradicionais. Em comunicação, a
ESPM está entre elas. Em enge-
nharia há a Poli, o ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica). São
as escolas mais tradicionais den-
tro de suas áreas.
Arnaldo
— Quais são os conselhos
para um jovem que pretende dispu-
tar as melhores vagas, seja de trai-
nee ou de primeiro emprego?
Claus
—
A primeira coisa é ética.
A cu ltura da Lei de Gérson, de
querer levar vantagem em tudo, é
algo muito complicado no Brasil.
Há o mau exemplo dos políticos,
a cultura da corrupção. A gente
sabe que há grandes corporações
com postura questionável. Existe
também o problema de governan-
ça com fornecedores. A ética é
um ponto fundamental que não
deve ser negociado. Testes psi-
cológicos ajudam as empresas a
descobrir se o jovem é aderente a
esses valores. Temos instrumen-
tos de RH hoje para avaliar isso. A
empresa deve tentar enxergar os
valores de berço dessa pessoa, em
que mundo, dentro da faculdade,
ela viveu. O segundo ponto é a
inteligência emocional. Quando
fiz pós-graduação na FGV, aos 21
anos, tive aulas com o professor
Luiz Carlos Cabrera, que é um dos
maiores
headhunters
do Brasi l.
Lembro que em uma aula ele per-
guntou aos alunos: “Quem aqui na
sala não gosta de ser político ou
de fazer política?”. Dois terços da
sala levantaram a mão. E ele deu
uma resposta radical: “Então, não
planejem ir para o mundo empre-
sarial. Montem seu próprio negó-
cio. Porque o mundo corporativo
é político, é social, tem de saber
partilhar, trabalhar em equipe”.
Arnaldo
— Os profissionais recém-
-formados têm dificuldade de convi-
vência em grupo?
Claus
—
Existe um problema gran-
de de compatibilidade dos jovens
que saem do ambiente individu-
a lista da universidade, compe-
titivo, para o processo coletivo
promovido pelas companhias. Há
um problema de adaptação. A in-
capacidade de trabalhar o grupo,
de partilhar, de ver o todo, está en-
raizada em vários níveis de gestão
dentro das empresas. É fato que
existem organizações com cultura
mais individualista, mas na maio-
ria delas é importante trabalhar
em conjunto, olhar as falhas como
opor t un idade de crescimento.
É importante ser simples e ter a
consciência de que nos primeiros
dez anos de carreira você estará
mais aprendendo do que oferecen-
do algo para a empresa.
Arnaldo
— Que outros valores o
jovem precisa ter?
Claus
—
Há outros atributos muito
valorizados no jovem. O princi-
pal deles é a atitude, o sentido de
urgência, a capacidade de mobili-
zação, de correr atrás. Isso conta
muito. Ética, capacidade de tra-
balhar em grupo e atitude, aquele
olho do tigre, são coisas que a
pessoa tem ou não tem. É difícil de-
senvolver depois. Se a pessoa tiver
um DNA extremamente individua-
lista, fica muito difícil mudar. E aí
voltamos às empresas, que preci-
sam selecionar os melhores perfis
e oferecer a formação, moldar o jo-
vem dentro da sua cultura, de seus
processos e metodologias. Feito
isso, esse investimento torna-se
uma relação de troca.
Existe umproblema grande de compatibilidade
dos jovens que saemdo ambiente individualista da
universidade para o processo coletivo promovido
pelas companhias. Há umproblema de adaptação