Revista ESPM - jul-ago - Revolução Silenciosa - educação executiva como vantagem estratégica das empresas - page 78

entrevista | claus vieira e luís Testa
Revista da ESPM
| julho/agostode 2013
78
Arnaldo
— Há tempos se fala da “ju-
niorização” do mercado de trabalho.
Hoje, o site da Catho oferece mais de
280 mil vagas de empregos. Desse to-
tal, quase dez mil postos de trabalho
são destinados aos estagiários. Como
estão evoluindo os programas de trai-
nee das empresas?
Claus
Na Catho nós percebe-
mos um fenômeno interessante.
Nossa base possui três pacotes:
profissionais, estagiários e opera-
cionais. O carro-chefe são os pro-
fissionais, que respondem por 90%
da base de assinantes e da receita.
No segmento de estagiários, que
tem tanto o lado das vagas quanto
o dos assinantes que procuram os
programas, está havendo uma ca-
nibalização positiva. Os candidatos
estão migrando dos planos de es-
tágio para as ofertas profissionais.
Isso reflete uma questão aspiracio-
nal muito grande. Eles querem ter
o primeiro emprego com carteira
assinada. Então, há uma procura
grande por posições de auxiliar
administrativo, assistente de mar–
keting, cargos de entrada, que os
estagiários, mesmo estando na
universidade, preferem. Estão quei-
mando uma etapa.
Arnaldo
— Isso é positivo?
Claus
Se eu pudesse mudar algo
em minha carreira, faria justamen-
te o contrário: desaceleraria, me
preocuparia menos em queimar
etapas. Mas essa geração Y, que está
muito plugada na cultura do mobile,
das redes sociais, é diferente. É ver-
dade que as crianças estão ficando
inteligentes mais cedo, os jovens
são mais precoces. Ainda assim,
o estagiário não deveria ter como
objetivo ganhar dinheiro, e sim
aprender. Eu fui trainee na Saint-
Gobain e tive um salário ótimo para
os padrões da época, uns US$ 2 mil,
aproximadamente, para correr a
empresa toda. Tive 18 meses para
aprender. Fiz parte de um grupo
de seis privilegiados do primeiro
programa de estágio da empresa.
Até os 30 anos de idade, as pessoas
não deveriam procurar emprego
pelo melhor salário, para ganhar
dinheiro, mas pelo local onde elas
vão absorver mais conhecimento.
É preciso buscar a cultura organiza-
cional ideal para crescer.
Arnaldo
— O primeiro emprego pode
ser menos produtivo do que um está-
gio, então?
Claus
Num programa de trainee,
o profissional não tem a pressão
de dar resultado imediato e pode
participar de projetos maiores, ao
lado de gente experiente. Mas eu
sinto essa preocupação em queimar
etapas. Na primeira oportunidade,
os jovens acabam trocando o está-
gio por um emprego, com carteira
assinada, para cumprir uma função
operacional, processual, onde não
há a mesma curva de aprendizado.
Esse é o fenômeno de canibalização
que estamos vendo na Catho.
Arnaldo
— A rotatividade de funcio-
nários está aumentando dentro das
empresas?
Luís
A rotatividade do mercado de
trabalho brasileiro como um todo é
muito alta. No ano passado, ela foi de
51,7%. Em 2008, 2009, ela estava na
faixa de 43%, 44%. Então, temos, sim,
uma rotatividade maior. Segundo o
Ministério do Trabalho, o volume de
contratações é crescente, mas o mes-
mo acontece com as demissões e os
desligamentos. Sempre paira esta dú-
vida sobre os motivos de o mercado
de trabalho continuar tão aquecido
se a economia não cresce, mas é por-
que as pessoas estão rodando muito
entre as empresas. Exatamente pelo
fato de as empresas não conseguirem
encontrar a melhor força de trabalho.
Então, elas acabam buscando pesso-
as que já estão empregadas. Isso abre
muitas oportunidades de crescimen-
to na carreira. Só para dar um nú-
mero: 45% dos assinantes da Catho
estão empregados, mas buscam uma
colocaçãomelhor.
Arnaldo
— Um empresário me re-
latou que fez recentemente um pro-
cesso seletivo para cargo júnior pela
Catho e, das 15 pessoas que confir-
maram a presença na entrevista, oito
simplesmente não apareceram. Isso
é reflexo desse aquecimento do mer-
cado e do perfil agressivo dos jovens
profissionais?
Luís
Essa falta de comprometi-
mento é grave. Isso também reflete
Até os 30 anos, as pessoas não deveriam procurar
emprego pelo melhor salário, mas pelo local onde
vão absorver mais conhecimento. Épreciso
buscar a cultura organizacional ideal para crescer
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