março/abrilde2013|
RevistadaESPM
15
plo. Até onde o pessoal e o empresarial
se misturam de maneira perigosa?
Cassio –
É uma boa pergunta, por-
que muita gente mistura
hobby
com
profissão. Tem gente que gosta de
surfar, mas está disposta a passar o
dia inteiro fabricando prancha? Pode
até ser, claro. Se você tem tanta pai-
xão, conhece tanto o ecossistema, o
negócio que aquilo gera, por que não?
Há grandes cases de sucesso.
Arnaldo –
E o inverso, quem só vê
oportunidade financeira em um seg-
mento com o qual não têm nenhuma
afinidade?
Cassio –
Empreender para ganhar di-
nheiro é um propósito errado. Se quer
ficar apenas milionário, tem quase
99% de chance de dar errado. Porque
o tempo para retorno do investimento
será tão grande, há tantos obstáculos,
que provavelmente você vai desistir.
É importante ter aquele brilho nos
olhos. Mas é importante ter aquela
paixão sem apego. Não pode ser tão
apaixonado e se tornar cego para o
entorno. Empreender é como criar
um filho. Ele deve ser criado para o
mundo, e quando fizer 18 anos vai
levar sua própria vida. Uma empresa
é a mesma coisa, você não pode ter
tanto apego, não ouvir a opinião dos
outros ou o que o mercado está dizen-
do. É a história do empresário que diz:
“O meu produto é ótimo, os clientes é
que são uns idiotas” (
risos
).
Arnaldo –
Falando em filhos, a em-
presa familiar voltou a ter um certo
charme. Como você enxerga esse mo-
delo entre os novos empreendedores?
Cassio –
Não se pode nunca rotular
as coisas. Há experiências que dão
certo e outras, nem tanto. A empresa
familiar passou por altos e baixos, e
você encontra casos de muito suces-
so. São empresas que souberam tra-
balhar bem a gestão, educar as novas
gerações. Falando no empreendedor
atual, a relação familiar é importan-
te, porque ele vai, no mínimo, ter o
apoio da família. Se o marido ou a
mulher, as pessoas no seu entorno
não derem apoio, o psicológico pesa
muito e pode fazer a pessoa desistir.
Antigamente havia preconceito com
empreendedorismo. As pessoas di-
ziam que empreendedor era quem
não conseguia trabalho.
Arnaldo –
É saudável ter a família
como financiadora do negócio?
Cassio –
Há vários estudos mos-
trando que os recursos iniciais vêm
das economias próprias, da família
ou dos amigos. É comum que esse
apoio venha do pai. Em um casal, é
a mulher ou o marido que banca as
despesas da casa enquanto o com-
panheiro está montando o negócio.
Obviamente, para isso é importante
ter um entendimento claro entre as
partes. Não adianta o pai empres-
tar o dinheiro para o filho e ficar
cobrando retorno imediato. É por
isso que você nunca deve depositar
dinheiro em um investimento que
pode vir a fazer falta. Até porque um
filho pode se sentir muito culpado
se o negócio der errado e estragar
uma relação familiar. Entre amigos,
mais ainda. Tipicamente, negócio
entre amigos é para perder a amiza-
de. É preciso tomar muito cuidado
com isso.
Arnaldo –
Vamos falar um pouco do
outro lado da moeda. Como você avalia
o investidor-anjo? Falta maturidade
para ele também?
Cassio –
Eles não têmmuito conhe-
cimento sobre como investir em
empresas iniciantes. Normalmente,
esse investidor tem conhecimento
do próprio negócio, mas não sabe
bem como olhar de fora. Há até
questões práticas sobre como in-
vestir. Se é melhor fazer um aporte
direto ou criar uma sociedade de
participações. Quais as garantias
que ele tem como investidor? Como
minimizar esses riscos? Falta muito
conhecimento. Uma das nossas
principais missões na Anjos do
Brasil é esta: prestar informação
e mostrar experiências práticas.
Então, formamos grupos, juntamos
anjos mais experientes com outros.
Um vai passando sua história para o
outro. Mas isso demanda certo tem-
po para amadurecer.
Arnaldo –
Há muita ansiedade do
investidor-anjo?
Cassio –
Há ansiedade nos resultados
ouna expectativada qualidadedopro-
jeto apresentado. O investidor precisa
Hoje, háumcerto glamour emempreender.Mas,
se você quer ter seunegócio, precisa ter consciência
de que irá carregar caixa, virarmadrugadas.
Então, irá trabalharmuitomais doque antes