março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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cendo, mas é preciso entender esses
polos profundamente. Você reúne
empresas ali, que não estão inovando,
mas executando. Há
cases
interes-
santes, mas não há tanta inovação. É
preciso caracterizar claramente quem
está executando e quem está desen-
volvendo. Esse tipo de coisa demanda
tempo. Sãoaltos investimentos, é todo
umprocesso a ser construído.
Arnaldo –
O Brasil, aparentemente,
tem um muro que separa a universidade
da empresa. Isso é mais culpa da uni-
versidade pública, que é muita fechada,
ou há também falta de interesse das
empresas, ao contrário do que ocorre em
outros países?
Cassio –
Não existe causa única. Há
desde a pura falta de hábito até resis-
tências efetivas. Já vi pesquisadores
que se sentem ofendidos se o seu pro-
jeto virar um produto comercial. Há
empresas que não estão habituadas a
procurar as universidades como fonte
de desenvolvimento, e é preciso mu-
dar a forma de pensar da universidade
em relação ao mundo dos negócios.
Isso para quando uma empresa ba-
ter à porta, ela estar preparada para
cumprir prazos, orçamento, padrãode
desenvolvimento etc. Não adianta a
universidade pensar como ela faz em
pesquisa de laboratório. É uma mu-
dança na forma de pensar. Temos de
atrair as empresas para buscar mais
serviços dentro das universidades.
Arnaldo –
Como a academia está evo-
luindo na questão do empreendedoris-
mo? As universidades estão dando mais
atenção ao tema?
Cassio –
Sem dúvida, se vê um mo-
vimento muito forte em produzir
matérias ligadas ao tema. Há univer-
sidades criando centros de empreen-
dedorismo. Isso émais visível nas ins-
tituições particulares. Nas públicas,
o movimento é mais lento, mas faz
sentido, à medida que as particulares
sentem mais essa demanda do mer-
cado. Nas públicas, é preciso acelerar
o processo, até porque pesquisa e
desenvolvimento estão concentrados
nelas. As universidades públicas pre-
cisam acordar para essa questão. É
claro, sabemos que nem todo mundo
vai virar empreendedor, até porque
quem seriam os colaboradores dessas
novas empresas? O percentual de
empreendedores é pequeno, mas é
um universo importante. Por isso, as
universidades devem oferecer opções
para quem quer empreender e para
quemquer seguir carreira.
Arnaldo –
Que recomendação você
daria para quem está começando?
Cassio –
Eu bato muito na tecla de
que a pessoa precisa buscar conheci-
mento domercado emque vai atuar. É
importante se capacitar. Ouvir muito,
perguntar muito. Muito empreen-
dedor vem fazer a sua apresentação
e nem quer saber quem eu sou, em
quais negócios eu gosto de investir.
Nempede um
feedback
depois da apre-
sentação, para saber o que achei. Um
dos grandes mitos é o de que a ideia
é o mais importante. Há quem exija
termo de confidencialidade. Quem
garante que outra pessoa não teve a
mesma ideia? Se fosse assim, por que
não existe nenhum anúncio de jornal
dizendo “vende-se uma ideia”? Porque
uma ideia sozinha nada vale. Ela só
vai ter valor se você transformá-la
em algo concreto. O mais importante
para o empreendedor não é a ideia,
mas a oportunidade de mercado, a
inovação que traz para o negócio. Aí
há vários mitos comuns, como aquele
de que a ideia é tão inovadora que não
existe concorrência. Um exemplo:
quem é o concorrente do Google? É o
Bing, oYahoo?OGoogle já tem90%de
participação demercado. Se ele quiser
ter 100%, isso não vai mudar nada. O
negócio do Google é anúncio, então o
maior concorrente do Google é a TV.
O concorrente é o cara que toma o di-
nheiro que você pretende ganhar.
Arnaldo –
E qual é o momento certo
para buscar investidor?
Cassio –
Há várias categorias de in-
vestidores. Desde o investidor-anjo,
até os fundos de investimento. A
primeira coisa é saber qual seria o
investidor certo para o estágio do
seu negócio. Se você já está faturan-
do R$ 1 milhão, R$ 2 milhões por
ano, um investidor-anjo não serve.
Mas o melhor momento para pro-
curar um investidor é quando você
não está precisando de dinheiro
para bancar o seu negócio. Uma
recomendação que eu dou é criar
uma relação anterior com investi-
dores. Nos Estados Unidos, a figura
do
advisor
é muito forte. Não é para
captar dinheiro, mas para lhe ajudar
a entender a sua necessidade. No
momento certo, ele próprio será um
potencial investidor.
Umdos grandesmitos é ode que a ideia é omais
importante. Se fosse assim, por que não existem
anúncios de jornal dizendo “vende-se uma ideia”?
Porque uma ideia sozinhanada vale