entrevista | Cassio Spina
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
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gerados. Mas é preciso entender que
crédito tem várias linhas específicas,
e que o investimento é uma delas. Não
adianta esperar obter recursos para
abrir uma empresa, porque isso não
existe, salvo em negócios muito esta-
belecidos e com retorno claro. Coisas
que não são muito inovadoras, como
um restaurante, em que existe uma
previsão de faturamento, mesmo que
venda pouco, vai vender alguma coisa.
O governo vem criando novas linhas
de financiamento.
Arnaldo –
O Brasil está avançando em
relação aos marcos regulatórios ligados
ao empreendedorismo?
Cassio –
Oque a gente vê emgeral são
entraves burocráticos e insegurança
jurídica para o credor. A gente sabe
que executar uma dívida na Justiça
leva anos, no caso de fraude. Isso one-
ra o custo de captação e a burocracia.
Então, há ideias, comoocadastroposi-
tivo, que podem ajudar a baixar esses
custos. Mas a verdade é que essas mu-
danças têm levado muito tempo para
acontecer. É preciso ser mais rápido,
começando pelo Judiciário. O investi-
dor sabe do risco inerente ao negócio,
mas quando a gente vê um juiz que
repassa para um investidor, que não
é sócio gestor, uma eventual dívida
trabalhista da empresa, por exemplo,
isso assusta. O investidor não sabe,
necessariamente, se a empresa dei-
xou de pagar funcionários e impostos.
Aí, um dia acorda com a penhora dos
bens para pagar uma dívida. O inves-
tidor está disposto a perder o capital,
mas estas questões complicam. A pri-
meira pergunta que a gente vê de um
novo investidor é essa: “Há risco de eu
comprometer muito mais dinheiro?”.
Temos de ser sinceros e dizer que isso
existe, sim. Há formas de você mini-
mizar esse risco, criando uma em-
presa intermediária de participação,
mas o risco continua. E, pior, onera o
investimento. A segurança jurídica é
umrequisitoessencial que está emfal-
ta no Brasil. Esse ponto é nevrálgico.
Arnaldo –
Por que no Brasil se inova
tão pouco, sendo o brasileiro tão em-
preendedor?
Cassio –
Esse é um tema complexo.
A inovação depende de uma série de
fatores. Um deles é o esforço tecnoló-
gico, investimento de base, e sabemos
que o Brasil nunca teve muitos recur-
sos para investir nesses setores. Em
agricultura, o Brasil é pioneiro emuito
desenvolvido. Mas faltam condições
para se criar uma inovação disruptiva.
Temos alguma inovação, mas é pouco.
Do ponto de vista empreendedor, a
inovação oferece nível de risco maior.
Como o mercado nacional tem muita
demanda mal atendida, criar algo
que apresente uma pequena inovação
reduz bastante o nível de risco. Você
pega modelos de negócios já compro-
vados internacionalmente e, enquan-
to houver oportunidade de preencher
as lacunas disponíveis, vamos con-
tinuar aproveitando, sem condições
de inovar. No futuro vamos precisar
investir mais em pesquisa. Isso será
necessáriopara criar novos negócios.
Arnaldo –
Como você vê os polos
tecnológicos no Brasil?
Cassio –
Há coisas bacanas aconte-
Empreender é como criar umfilho. Ele deve ser
criadopara omundo e quandofizer 18 anos vai
levar suaprópria vida. Uma empresa é amesma
coisa, você nãodeve ter tanto apego
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