março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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avaliar o potencial do mercado e se
as pessoas têm capacidade para exe-
cutar. Não adianta esperar um plano
de negócio com números certinhos,
com todos os dados perfeitos até a
última linha. Outra coisa é o prazo:
vai levar até cinco anos para esse
negócio amadurecer. Mas noto que a
ansiedade é mais do empreendedor,
que acredita ter uma grande ideia e
cria uma enorme expectativa. Muitos
não conseguem viabilizar o projeto e
criticam o investidor dizendo que ele
não está disposto a correr risco. Não
vounegar quehá receio, porqueo risco
é realmente alto. Mas não é bem as-
sim. Não basta o empreendedor apa-
recer comumPower Point bonitinho e
achar que ele vai sair comdinheiro na
mão. Ele tem de mostrar capacidade
de execução e a viabilidade do seu
projeto. Ele tem de se virar para fazer
um protótipo, ou a prova de conceito,
se for umserviço. Algo que demonstre
que ele consegue fazer, mesmo com
recursos parcos. Alguns empreende-
dores ficam tão ansiosos que chegam
a apresentar atitudes agressivas como
se fosse uma obrigação investir. As
pessoas têm de aprender a fazer a sua
lição de casa. O investidor que conse-
guiu juntar algum patrimônio sabe
dos riscos, como é difícil prosperar e
não sai por aí rasgando dinheiro. Es-
tatisticamente, sabemos que metade
dos projetos bancados por investido-
res dá errado e, da outra metade, um
ou os dois vão darmuito certo. Oresto,
se recuperar o capital, já está no lucro.
Arnaldo –
Você já vivenciou muito isso
como investidor-anjo?
Cassio –
Já. Adquirimuito aprendiza-
do, tanto como empreendedor quanto
como investidor. Cada vez que você
avalia um projeto, já é um aprendiza-
do. No início, era uma operaçãomuito
complexa. Hoje, aprendi a ter mais
agilidade, a não gastar tanto tempo
analisando algo que vai dar emnada.
Arnaldo –
E a paixão do investidor,
não pode ser perigoso também?
Cassio –
O investidor precisa ter
certa dose de paixão. Precisa gostar
e entender alguma coisa do negócio.
A não ser que ele invista com outras
pessoas que dominem mais aquele
assunto. Mas é preciso gostar, ter
empatia com os empreendedores,
ter valores e atitudes parecidas. Se
não, haverá problemas, momentos
difíceis, e uma relação só resistirá se
houver pontos em comum. A relação
não deve ser próxima demais, mas
não pode ser distante.
Arnaldo –
Como você vê esse movi-
mento das aceleradoras (que investem
na primeira etapa do projeto, para
vender rapidamente a participação a
outros investidores)?
Cassio –
Esse movimento ajuda
muito o investidor-anjo. Porque elas
entram numa fase anterior, ajudam a
formatar o negócio na hora de ir para
o mercado. Agora, o problema é que
existe um certo modismo, que levou
à criação de uma enxurrada de acele-
radoras. E esse também é um negócio
difícil. Muita gente acha que vai juntar
um bando de empreendedores, dar
umdinheirinhopara eles eficarmilio-
nário. Novamente, quem entrar nessa
onda, para ganhar muito dinheiro,
vai quebrar a cara. Porque o trabalho
que dá, tanto para achar as melhores
oportunidades quanto para ajudar
esses empreendedores a dar os passos
certos, é muito grande. Sem falar na
competência por trás disso tudo.
Arnaldo –
Não há também uma
cobrança de metas muita elevada
por parte dos investidores? Muitos se
queixam de que captam investimento e
depois são amordaçados com objetivos
difíceis de alcançar.
Cassio –
Olha, precisa ser ambi-
cioso, mas com o pé no chão. Não
adianta traçar uma meta impossível.
Mas tem de querer crescer, e crescer
muito. Porque o negócio não se justi-
fica de outra maneira. A conta para o
investidor não fecha.
Arnaldo –
Há uma contradição entre
o discurso público de apoio ao empre-
endedor e a realidade de que, de seis
meses a um ano, é quase impossível
obter crédito. É justamente nessa fase
que se verifica o maior índice de morta-
lidade das empresas. Como resolver esse
problema?
Cassio –
Existe uma estatística de
que as pequenas e médias empresas
só recebem 6% do volume de crédito
total na economia, considerando que
elas formammais de 90% da base das
empresas emais de 50%dos empregos
Estatisticamente, sabemos quemetade dos
projetos bancados por investidores dá errado e,
da outrametade, umou dois vão darmuito certo.
Oresto, se recuperar o capital, já está no lucro