entrevista | Flávio Jansen
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
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Alexandre –
Como você compara o
modelo de empreendedor de hoje ao da
sua geração?
Jansen –
O ambiente não é fácil, mas
algumas coisas melhoraram. Na déca-
da de 1990, não havia dinheiro dispo-
nível para empreendimentos que não
fosse o de origem familiar. Hoje, há
mais dinheiro disponível para ideias
boas. Ainda que não para todas.
Alexandre –
Essa mudança de cenário
altera o perfil do empreendedor?
Jansen –
Não.
Alexandre –
Talvez democratize a pos-
sibilidade de empreender?
Jansen –
Este é o ponto. Demo-
cratiza. Mais pessoas conseguem
pensar, planejar e querer empre-
ender. Isso aumenta o índice de
sucesso. Mas, no fundo, para em-
preender, você precisa ter algu-
mas habilidades. A pessoa precisa
ter algum apetite para risco, ca-
pacidade para trabalhar bem em
mais de uma área
–
ou ser um gru-
po que faça isso
–
, gostar de inova-
ção e de algum nível de incerteza.
Isso não muda.
Alexandre –
O que mais mudou desde
o fim dos anos 1990, no primeiro boom
das pontocom?
Jansen –
O que melhorou foi a esta-
bilidade econômica. Mesmo depois
de a inflação ser controlada, você não
sabia como era o dia de amanhã. Hoje,
o ambiente é mais estável. Isso facili-
ta também. Às vezes, temuma pessoa
que quer fazer um empreendimento e
fala: “Vou tentar dois anos. Se não der
certo, eu continuo a minha carreira”.
Naquela época você não sabia como
[a economia] ia estar quando voltasse.
Alexandre –
O empresariado brasi-
leiro, no entanto, não parece propria-
mente satisfeito.
Jansen –
Você vai dizer que o Brasil
é amigo do empreendedor? Não é.
Vou lhe dar um exemplo: a lei do Es-
tado de São Paulo que exige entrega
com hora marcada para comércio
eletrônico. A gente tem cinco mil
lojas virtuais [hospedadas na Loca-
web], a maior parte pequena. Isso
aí [a exigência de hora marcada]
é a mesma coisa que matar o cara
[empreendedor]. O que ele vai fazer?
Provavelmente, não vai seguir a lei.
Não faz sentido. Então, ainda tem
não só burocracia, mas uma mentali-
dade de não ajudar o empreendedor.
Há muita iniciativa que vai contra o
pequeno e o microempresário.
Alexandre –
Quando você começou,
Nadécadade 1990, nãohaviadinheirodisponível
para empreendimentos que não fosse ode origem
familiar.Hoje, hámais dinheirodisponível para
ideias boas. Aindaque nãopara todas
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