março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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era mais difícil do que hoje iniciar uma
empresa no Brasil. Qual foi sua princi-
pal motivação?
Jansen –
Eu empreendi dentro de
um projeto. Tinha um grupo maior
de pessoas [envolvidas na criação do
Submarino]. A principal motivação é
ver uma ideia boa, que você acredita
que pode abraçar, em um espaço que
ainda não está ocupado. Muito da
motivação do empreendedor é falar:
“Isto aqui estámalfeito. Eu vejo como
fazer melhor”. Há pessoas que têm
aquela vocação de querer ser empre-
endedor. Não é o meu caso.
Alexandre –
Não é o seu caso?
Jansen –
Não é o meu caso. Tanto é
que hoje sou executivo. O empreen-
dimento, para mim, é muito mais
essa busca de novidade, inovação e
curiosidade. Isso é que me motiva.
Ver alguma coisa que ainda não está
feita, que você pode fazer. Boa parte
dos empreendedores começa por
essa motivação.
Alexandre –
E o nerd que descobre
um algoritmo fantástico durante uma
madrugada de programação e cria uma
empresa em torno dele? Ele não olha o
mercado para saber se há demanda...
Jansen –
Na verdade, isso [essa dife-
rença de abordagens] tem a ver com
as habilidades. Existe aquela pessoa
que é técnica, desenvolvedora, e
acaba criando o produto a partir da
tecnologia. E tem a pessoa que parte
da visão contrária. Há o empreende-
dor que tem a ideia, sabe quem vai
atender e como será a “usabilidade”,
mas não sabe como programar. Você
hoje encontra essas duas famílias
de empreendedores.
Alexandre –
Uma tem mais chance de
ser bem-sucedida do que a outra?
Jansen –
Não. O grande segredo é
saber o que está faltando para você. A
melhor sacada do empreendedor vem
quando ele consegue entender que é
bommontar um grupo de dois ou três
[sócios] para dar mais consistência ao
negócio.
Alexandre –
Há duas visões sobre
isso. Uma sugere montar o melhor time
possível, porque ninguém vai ter todas
as competências necessárias. Outra
recomenda que o empreendedor se auto-
desenvolva até dominar as várias áreas.
Jansen –
Eu gosto mais do primeiro
caso. Mas não é contratar. Mesmo que
consiga algum dinheiro, você não vai
ter recursos para contratar o melhor
time. O segredo é trazer sócios. Tentar
empreender em um grupo de duas ou
três pessoas. Em três é até melhor.
Assim você vai conseguir dominar as
várias disciplinas. Asegunda ideia [da
autossuficiência] é uma utopia.
Alexandre –
Você entrou nesse uni-
verso como um cara de tecnologia. Era
CTO
(Chief Technical Officer),
do
Submarino. Depois virou CEO
(Chief
Executive Officer).
Nessa transição,
teve de passar por um processo de am-
pliação do foco?
Jansen –
Comecei [minha carreira]
em tecnologia, como engenheiro,
numa empresa chamada Victor
Comunicações, que fazia redes
de satélites. Aí, fui trabalhar na
Mandic [hoje uma empresa de com-
putação em nuvem], como diretor
de tecnologia, na época em que o
Aleksandar Mandic era provedor
de acesso à internet. Da Mandic, fui
para o Submarino, também como
diretor de tecnologia. Mas como
na Mandic eu era também diretor
financeiro, isso facilitou a minha
vida. Eu já tinha um pouco mais
de exposição em outras áreas. A
principal mudança foi assumir a
parte de gestão de pessoas. Minha
experiência como CEO do Subma-
rino não foi tão empreendedora. Foi
mais executiva mesmo.
Alexandre –
Foi para aprender a gerir
pessoas que você teve de suar mais a
camisa?
Jansen –
Tive de suar a camisa,
aprender, olhar, prestar atenção.
Aprendi conversando com pessoas
que faziam isso bem. Eu tive uma
mentoria. É o que funciona melhor,
porque ele [o mentor] acaba lhe dan-
do dicas práticas por meio de casos
concretos. Você não precisa fazer
igual, mas aquilo “tangibiliza”.
Alexandre –
Alguém foi especialmente
importante para você, nesse período de
mentoria?
Ogrande segredo é saber oque está faltandopara
você. Amelhor sacadado empreendedor vem
quando ele consegue entender que é bommontar
umgrupode dois ou três sócios