Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
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meninos (azul rei). Quem convive com
crianças sabe que durante uma fase de
suas vidas essa divisão é fundamental
para eles, porque é sinônimo da afirma-
ção de sua identidade sexual. E de for-
ma mais ampla, uma campanha que
construa o significado para a palavra
pre-
servação
tem como objeto de valor a di-
ferença da sexualidade, que é o que ga-
rante a continuidade das espécies.
Isso evidencia que o cerne da cam-
panha é a ação de preservação ecológi-
ca, uma ação que precisa ser coletiva e
evoca a participação de todos ali. Ape-
sar de as duas páginas estarem lado a
lado, elas não formam uma página du-
pla visualmente. Os elementos presen-
tes têm características próprias. A única
união entre elas está no fato de se tratar
de protagonistas crianças e estarem den-
tro d’água. Mas seu posicionamento di-
ante da situação é diverso (visão pano-
râmica das meninas, que olham direta-
mente para o leitor enquanto o menino
está em close, mas com o olhar escondi-
do pelos óculos escuros para que o olhar
se concentre na questão da respiração da
criança ser semelhante a do boto, evi-
denciando o primeiro momento de
distanciamento, que resulta no efeito de
sentido da reflexão: “E eu? O que estou
fazendo para preservar o meio-ambien-
te para meus filhos?”Amanipulação por
intimidação chega ao seu ápice. O “de-
ver-fazer” é competência exigida neste
momento. Quanto às linhas e formas
(formante eidético), o formato dos ócu-
los é efeito de sentido do boto. Entretanto,
não há uma harmonia entre as duas pági-
nas a ponto de formarem uma página du-
pla, porque é nelas que se instala o “con-
flito” da estrutura do conto proppiana e
uma forte manipulação por intimidação.
Na quarta e quinta páginas, encon-
tramos uma página dupla, na qual a cri-
ança aparece de pé no centro da página,
fora d’água, observando o mar e o hori-
zonte que constroem a noção de distân-
cia do conflito. A refração da luz desa-
parece. Aqui passa-se do lugar utópico,
a luta idealista pela preservação da na-
tureza para a sanção, ou seja, a realiza-
ção desta pro-
posta sendo já
vivenciada (re-
compensa do
herói, no dizer
de Propp). Ela
está de cabelos
secos e de maiô
v e r m e l h o
inteiriço, am-
bos secos. Aqui
a criança já fez
uso dos produ-
tos da Boticá-
rio. Ela é dona
da situação. Te-
mos visualmen-
te na página da
direita a apre-
sentação dos
produtos usados
e certeza de uma
natureza preser-
vada, concreti-
zada pela visão
que temos do
horizonte azul e um mar límpido. Tudo
isso aparece sintetizado em uma única
imagem: a menina em equilíbrio com a
natureza. Os golfinhos ocupam a página
inteira e estão no horizonte que a meni-
na provavelmente observa. A criança
consumidora se identifica com a meni-
na porque tem o mesmo ponto de vista,
de frente para o mar. Por isso ela apare-
ce de costas.
Abaixo na página da esquerda, o tex-
to verbal avisa: “Chegou Boti. Nunca é
cedo demais para amar a natureza”.
Logo, os golfinhos anteriores esta-
vam figurativizando o Boti, o boto da
Boticário que é o elemento de ligação
da criança e a ação ecológica e que ins-
tala o “programa de uso” que visa ensi-
nar às crianças consumidoras da linha
infantil de produtos para banho da Boti-
cário a serem participantes da defesa da
natureza e do meio ambiente. Ela prote-
ge a natureza porque seus cuidados com
a higiene são feitos com os produtos
biodegradáveis da Boticário, o que acon-
tece diariamente, ela está simultanea-