Revista ESPM - março/abril 2002 - page 36

Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
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culino). O menino de óculos escuros e
bochechas e boca contraídas de ar está
rodeado por três golfinhos chapados vol-
tados para ele: um amarelo, um rosa e
um azul. Seu rosto e corpo estão ilumi-
nados de luz que vem de fora do mar.
Ele está perto da superfície, pois o par
de óculos de natação aparece duplica-
do. Ele recebe a pressão do seu corpo
no subir à superfície para soltar o ar e
recebe ainda a pressão dos golfinhos.
Todos têm o corpo voltado para sua di-
reção. O menino pode ser identificado
como igual ao boto. Ou seja, ele age
como o golfinho, ele pega ar fora d’água
e solta o ar dentro d’água. Está criado
um outro elemento de identificação: am-
bos são animais mamíferos. Sobre a re-
lação com a superfície, luz e imagina-
ção, nos diz Bachelard (1998:2):
Em vista da necessidade de seduzir,
a imaginação trabalha mais geralmente
onde vai a alegria – ou pelo menos onde
vai uma alegria! – no sentido das for-
mas e das cores, no sentido das varieda-
des e das metamorfoses, no sentido de
um porvir da superfície.
E sabe-se, por meio da
Psicanálise, que a imaginação
é criadora de soluções inusi-
tadas e originais para proble-
mas da humanidade, por meio
da idéia luminosa, a solução
“eureka” de Arquimedes. O
uso de luz entrando nas águas
onde as crianças na-
dam revela a todo
momento a proxi-
midade de uma pro-
posta de solução
para o problema
que pulsa no texto,
que por sua vez apa-
rece na forma de
uma mancha de tex-
to branca, eco do
elemento luz e da
capa branca do livro
do Boti, que acom-
panha a campanha.
A massa do tex-
to verbal aparece
sobre o rosto do menino e apre-
senta os seguintes dizeres: E
que eu vou ter que ajudar (e =
conjunção de ligação, em uma
frase que é subordinada com a
anterior – novamente uma pá-
gina se encadeia na anterior e
a anterior na primeira); vou ter
que ajudar (a tomar conta do
mundo). Por quê? Porque a criança cria
o efeito de sentido do futuro, só ela pode
construir o efeito de sentido natureza. O
texto verbal se aproxima do discurso in-
fantil que se caracteriza por ser coloqui-
al (ter que, ao invés da norma culta “ter
de”. Ou seja, a voz das duas crianças da
esquerda (elemento feminino) não será
suficiente sozinha se ela não ecoar em
outras vozes, com a do menino da direi-
ta (elemento masculino). A página da es-
querda está visualmente destensionada,
e dá continuidade às anteriores. A pági-
na da direita está tensionada, criando o
efeito de sentido de conflito, pressão psi-
cológica que reverbera a física. E a boca
tensionada, a boca fechada a força, é a
visualização de uma intimidação. É só
fazermos referência aos ditos populares:
“Fique de boca fechada”; “Em boca fe-
chada não entra mosquito”, etc.
Vai ser nessa página que encontrare-
mos a primeira marca da presença do fe-
minino e masculino, menina e menino,
juntos representando a linha do Boticá-
rio, na qual há uma colônia para meni-
nas (rosa maravilha) e uma colônia para
“Os raios solares
que entram de fora
atingema criança e os
Botis envolvendo-os
em uma aura de luz,
que parece integrada
comesseelementoda
natureza.”
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