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constituição de um modelo capaz de pecar por

vícios em sentido contrário: a destruição dos

instrumentos de representação política e a

promoção da ação individual em detrimento das

ações sociais e comunitárias, inviabilizando as

organizações de defesa de direitos e promotoras de

acesso a benefícios sociais.

A compreensão dos problemas da gestão

pública vigente e das alternativas que não

descaracterizem as funções precipuas do Estado

de promoção da cidadania e do bem-estar será a

linha de equilíbrio para a construção de um modelo

garantidor de igualdade social.

Sinopse do desenvolvimento do Estado

e a área social no Brasil

Até 1.930 o Estado brasileiro seguiu a

orientação do Estado liberal clássico, organizado

para garantir a propriedade, os contratos e a

arbitragem das lides cíveis e aparelhado para manter

a ordem interna e defender o país contra os inimigos

externos. Tal orientação também se permeava pela

herança do estado patrimonialista onde a "res

pública" se confundia com as propriedades do rei

ou, no caso, das oligarquias rurais que se alternavam

no poder e tratavam as questões do Estado como

coisa privada, substrato de gestão de interesses

particulares da elite dirigente.

As questões sociais eram enfrentadas

basicamente através de ações filantrópicas

voluntárias e de caráter cívico e caridoso. A

ausência do Estado na área social, trilhando o

paradigma do liberalismo, mostrou-se insuficiente

para satisfazer o conjunto de demandas sociais

emergentes e ocorrentes na época, fruto do crescente

processo de urbanização, da debilidade do sistema

produtivo industrial ainda infante e do aumento do

desemprego.

Com a Revolução de 30 os poderes do

Estado passam a se concentrar no Executivo

Central, fenômeno que se aprofunda e se consolida

com a instauração do Estado Novo. Surge então o

modelo de estado intervencionista capitaneado pelo

presidente Vargas, que assume o modelo clássico

de administração, calcado na racionalidade

weberiana

1

e de forte centralização no nível federal

de governo.

Como define Gileno Marcelino

2

, o governo

do Estado Novo assume um caráter "liberal,

racionalista e ditatorial, administrado por um

estamento burocrático" em progressão, isto é, cada

vez mais burocrático e autônomo no plano

administrativo e mais centralizado no executivo.

A concretização destas orientações no plano

político-administrativo se dá na unificação dos

procedimentos e intervenção nos Estados da

Federação, com a implementação de extensas redes

de órgãos burocráticos e, simultaneamente, com a

suspensão do funcionamento de organizações

políticas que pudessem representar resistências ao

modelo, em especial as organizações partidárias.

3

Essa intervenção se realizou basicamente em

três níveis.

No primeiro nível encontramos a criação de

órgãos formuladores de políticas públicas, com

responsabilidades primordialmente de

staff,

em

oposição às atividades de linha ou gestões típicas

na ponta dos processos administrativos. Essa

estratégia getulista buscava cooptar os diversos

setores da sociedade, através da integração de seus

membros como representantes nos conselhos

consultivos e deliberativos dos diversos órgãos

setoriais de planejamento.

A associação do governo com a classe

dirigente constitui, portanto, parte da estratégia para

a implementação de um novo ciclo na administração

pública, restabelecendo as estruturas e a malha de

poder abaladas pela Revolução de 30 e pela

decadência das oligarquias cafeeiras da I República.

A tentativa de realizar o pacto entre Estado e

sociedade levou o governo getulista a criar vários

organismos como o Conselho Nacional do Petróleo,

o Conselho Nacional do Comércio, a Comissão

Nacional do Vale do Rio Doce, entre outros. Tais

iniciativas, no entanto, não lograram totalmente os

resultados políticos almejados: o cenário de

convulsivas mudanças do processo de

industrialização, no cerne do capitalismo tardio,

inaugurou a luta entre a tecnocracia estatal e a

burguesia. Luta que vai se acirrar ao longo do

desenvolvimento do Estado Novo.

No segundo nível, a intervenção do Estado

acontece através da expansão dos órgãos

permanentes da administração direta, tais como:

Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio;

Ministério da Educação, Cultura e Saúde; Instituto