Janeiro_2009 - page 16

Três forças transformadoras
em tempos de crise
R e v i s t a d a E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2009
16
Esta reviravoltadeexpectativasdissolveu
no ar os arranha-céus de insensatez,
movidosmaispelaganânciadoquepela
responsabilidade. Avariou ou destruiu
empresasdegrandereputação,dragando
as reservas financeiras de países. E, em
seguida,seestendeuparaaeconomiareal
ecomunidades,ondeaspessoasnascem,
estudam, trabalhamecriamseus filhos.
Seahistórianosmostraquesociedades
humanas se envolveram na adoração
cega de ídolos, nós nos deixamos se-
duzirpela idolatriadoconsumoepelo
endeusamentodomercadocomofonte
de todaa lógica,podereaspiração.
Ecomoaexorbitância foi tanta, nos
afastamosdequestõesessenciaisao
serhumanoe,porconsequência,do
cuidadocomo seuprópriohabitat,
nosso planeta, hoje tão ameaçado
de perder o que a natureza levou
milhões de anos para criar.
Podemos nos perguntar: como chega-
mostãolonge?Quetipodevida,defato,
almejamos?O individualismo temmar-
cadonossaera.Viveraquieagora,com
todooconforto, excessoedesperdício.
Iniciativasemnomedodesenvolvimento
econômico,daproduçãooudoconsu-
mo se transformamemuma infinidade
decasos, emaçõespredatórias, cumu-
lativas e até irreparáveis, como se não
houvessemconsequênciasparaofuturo
próximoegeraçõessucessoras.
Écomoseadivindademercado,posta
acimade todasaspessoas,eanature-
za,com todaasuacomplexidade,pu-
dessem serniveladase tratadascomo
objetos de consumo, com os quais
podemos transacionar pelo nosso
desejoegocêntricoefins imediatistas,
sem dimensionar sua intrínseca rela-
çãocomo ser humano.
Quando entramos
emCrise
Muitascriseseconômicasseassemelham
inversamenteaosciclosespeculativos.Por
diversas pressuposições, algumas mais
lógicaseoutrasmaissubjetivas,secomeça
aimaginarquedeterminadosativos,como
imóveis, terão uma grande valorização
e que, portanto, vão subir de preço. À
medidaemqueaspessoaspartemparaas
compras,pelaleidaofertaedaprocura,os
preçossobem.E,quandosobem,confir-
mamereforçamahipótese inicial.
Crises comoestaquenos atingiunão
se resumemaumeventoeconômico,
pois desencadeiam um círculo vicio-
so de percepção de sua gravidade.
Partindo-se de fatos reais, projetam
consequênciasdegrandealcance,que
podemprejudicarnegócios futuros.O
temor de que isso ocorra gera ações
defensivasquevãosemultiplicandoe
confirmando,napercepçãocoletiva,a
gravidadedasituação.E,assim,ociclo
recomeçabemmais forte.
Crisesdespertamsentimentos,emoções
e instintosmaisbásicosda sobrevivên-
cia.E,quandoseagravam, têmopoder
de transformar temor em ansiedade,
medoeagressividadedesmedidos.
O pior de uma crise ocorre quando
as pessoas e as empresas se permitem
influenciar pelo clima de pessimismo
generalizadoecomeçamainternalizá-la
noseudia-a-dia,prejudicandoseuestado
deespírito, atitudes ecomportamentos,
muitoalémdequalquerbomsenso.
Quando nos deixamos dominar pelo
medo,dúvidaeinsegurança,acrisesetor-
na,de fato,realnanossavida.E,ao invés
depensarmosnasoportunidades, imagi-
namosopioreentramosempânico.
Alguns se consideram proativos cor-
tando custos, adiando investimentos
vitais, reduzindo equipes, cortando
promoções,programasde treinamen-
to,marketingevendas.
Háempresas que sedesviamde seus
própriosprincípios,atémesmodaque-
les que eram ditos inabaláveis, para
adotar as chamadas medidas “emer-
genciais”. Muitas dessas ocorrem
comoseosfins justificassemosmeios,
passando por cima de valores como
respeito, justiçae transparência.
Ao trocar a velocidade pela pressa,
agemde formaatabalhoada, semava-
liarasituaçãocomobjetividade,decidir
com critérios, cuidar bem da imple-
mentaçãoe realizarumbomprocesso
de comunicação. Dessamaneira, vão
disseminandoumclimadedesconfian-
ça,desmotivaçãoe faltadeperspectiva
que pode irmuito alémde seus cola-
boradores, paraalcançar seusclientes,
investidores edemais parceiros.Desta
maneira, em nome da sobrevivência,
colocamo futuroem risco.
Exemplos não faltam. Recentemente
uma empresa demitiu um executivo
sênior, consideradoum ícone em suas
operações.Omotivoalegadofoianteci-
parsuasaídaparareduzircustos.Tudofoi
feitoàspressas, emumabreve reunião
que não passou de alguns minutos. E
paracomplicar,seusubstitutonãoestava
prontoparaassumiraposição,deacordo
comaunanimidade internaeexterna.
Hácasosemquepessoassãodesligadas
numa rápida conversa de corredor e
outros,atépore-mail. Tudoemnomeda
agilidadeeda“eficiência”.Semais tarde
opassivo trabalhistacrescer, dificilmente
seestabeleceráaconexãodoresponsável
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