Roberto
Civita
janeiro
/
fevereiro
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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multinacionais que não só eram
grandes empresas, como são
empresas gigantescas hoje. E o
Gracioso e eu já entrevistamos
pessoas de multinacionais aqui
do Brasil, e a impressão que dá
é que, nessas organizações, os
“yes men” têmmais chances do
que os que vivem dando idéias e
querendo aparecer.
Civita –Háumpadrão, issopare-
ce lógico.Quantomaior aempresa
–elapodeestar em50, 100países,
pensando nas grandesmultinacio-
nais – eles têm de ter uma cultura
básica,manuais de procedimento,
essas coisas são mais ou menos
inevitáveis, imagino que não te-
nhamalternativa.Deve ser opreço
que se paga pelo tamanho, você
tem de lutar contra, mas não vejo
como evitar.
Gracioso–AGM, por exemplo,
não soube lutar contra isso, tor-
nou-se dogmática, corporativista;
e imagino até que o trabalho na
GM era agradável, se entendiam
bem, eram pessoas que passavam
os finais de semana juntos, no
subúrbio de Detroit, entretanto
acabou dessa forma...
JRWP–Roberto, foi seupai,Victor
Civita, quem fundou aAbril.Você
herdou, também, o poder que era
do seu pai. Como você vê a ques-
tão da empresa familiar?
Civita – Especialmente no se-
tor de mídia, acredito muito na
importância das empresas fami-
liares, e vou explicar por quê:
as famílias têm uma vantagem
sobre a Bolsa, elas pensam a
longo prazo em vez de pensar
o trimestre ou o valor da ação
hoje, o balanço deste ano. As
famílias pensam em termos de
gerações e os acionistas nor-
mais, executivos normais pen-
sam – de modo correto – em
prazos mais curtos. Considero
isso a vantagem das empresas
familiares bem administradas
porque elas não se deixam se-
duzir ou desviar, pensando no
resultado daquele trimestre ou
daquele exercício, acho isso
fundamental. Li um estudo – não
lembro onde – dois professores,
creio que nos Estados Unidos,
comparando as empresas com
controles familiares versus as
empresas sem controle fami-
liar, em termos de resultados,
ao longo de décadas – não de
anos – e eles descobriram que
as empresas com controle fa-
miliar vão melhor. Vão melhor
– eu estou falando em controle
e não em totalidade das ações
– porque as famílias pensam a
longo prazo.
Gracioso – Aí entra em jogo
a chamada Ética Protestante do
Max Weber: a empresa acima
da família.
Civita – Penso que a questão é
sempre equilibrar. A sabedoria
consiste em equilibrar o seu
curto e o seu longo, a importân-
cia de tratar bem as pessoas e o
seu público contra o resultado
imediato. Quanto melhor você
equilibra, melhor vai a empresa.
Todas as empresas que vejo per-
derem o caminho são empresas
que não conseguiram manter o
seu equilíbrio.
JRWP –Tenho uma pergunta so-
bre a questão dono da empresa
versus gestor pago. Sabemos que
omedo émau conselheiro, a pri-
meira coisa que acontece com
as pessoas em pânico é parar de
pensar. Um dono, um herdeiro,
uma pessoa cuja família é a
acionista majoritária tem mais
tranquilidade para liderar, para
gerir, para fazer as coisas do
que alguém que foi selecionado,
contratado e de quem se espera
um resultado, às vezes, emprazo
muito curto. Você não acha?
Civita – Depende da situação,
de quantos primos você tiver.
Nas primeiras gerações é fá-
cil; na terceira, quarta, quinta,
começa a ficar complicado;
quando se chega a 100 primos
– e chegam – como disse o John
Davis, “as famílias crescemmais
depressa do que as empresas”.
}
Contrate gentemedíocre e eles trarão
pessoasmedíocres.
~
}
Vãomelhor porque as famílias
pensam a longo prazo.
~
î