Roberto
Civita
janeiro
/
fevereiro
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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com a cabeça das pessoas, não
com o estômago ou o pé, estamos
lidando com idéias, informação e
comcriatividade. Entãoémais fácil
motivar pessoas nesse tipo de ati-
vidade do que ser caixa de super-
mercado, que não deve ser muito
divertido. E isso é coletivo, não
individual: a grande maioria das
pessoas aqui gosta doque fazem e
omaior privilégio que se pode ter
na vida – essa é a minha visão de
mundo–é fazer oquegosta, jáque
amaioriados seres humanos desse
planetanão temessaescolha. Pen-
se em quanta gente faz o que não
gosta porque tem de trabalhar. O
númerodepessoasquequer traba-
lhar naAbril, atéhoje, é fantástico.
Temos 20 vagas por ano para trai-
neesdeadministraçãoe temosdez
mil inscrições. Porqueeles gostam.
Porqueconhecemas revistas. Pode
ser
Veja,Placar,Claudia,Gloss
, eles
se identificam e dizem “eu quero
trabalharnisso”. Estou falandomais
daeditoradoquedeoutras coisas,
mas a educação também é uma
atividade atraente.
JRWP – Nas grandes multinacio-
nais também, esses números são
altos – Unilever, Nestlé – não sei
seéamesma relação,maseles têm
milhares de candidatos.
Civita –As pessoas quevêmaqui
são pessoas que decidiram que
queriam trabalhar naAbril,muito
antes de qualquer outra coisa.
Eles dizem “eu quero trabalhar
na Abril”, outros comentam que
“desde que eu tinha quinze anos,
doze ou sete, eu queria trabalhar
na Abril”. Por causa de uma re-
vista que eles compram, enfim,
essa é uma diferença que eu não
posso negar, ninguém diz isso
sobre um sabonete, um sapato
ou leite condensado...
Gracioso–Você faloudacultu-
ra e eupercebi a importânciaque
vocêdá à culturada empresa eda
sua empresa. Como isso funciona
aqui dentro?
Civita – Vamos voltar às pessoas.
Você começa com um pequeno
núcleo... Esta empresa – como to-
das as outras – começou pequena.
Quem você escolhe, como você se
comporta, como os fundadores se
comportam? A relação com essas
pessoas eos princípios que adotam
influenciam como aquelas pessoas
vãocontrataroutraspessoas,eassim
por diante. É um círculo virtuoso,
nesse caso. Comece com gente de
bemeeles trarãogentedebem;con-
tratepicaretaseeles trarãopicaretas;
contrategentemedíocreeeles trarão
pessoas medíocres. A cultura tem
muito a ver comoque se transmite
de uma geração para outra, de um
nível hierárquico para outro e o
exemplo é fundamental. Lembro
que, há muitos anos, – quando as
ligações internacionais eram caras
–eu sugerique todospagassem suas
ligações pessoais, dizendo “é um
sistema que depende da honestida-
dedecadaum, todomês vocês vão
receber uma relação com as suas
ligações internacionais, assinala as
que são pessoais e serão debitadas
a cada um”. Quem tinha que dar
o exemplo? Eu, e pagava religiosa-
mente asminhas ligações pessoais,
porque seeunãopagasseasminhas
quem iria pagar as suas?
Gracioso–Educar e influenciar
pelo exemplo.
Civita – Sempre.
JRWP – Tive um colega, gerente
de produto na Refinações de Mi-
lho Brasil – Helmut Peter Schütt
– que passou pelaAbril eme con-
tava uma história ocorrida com
você: vocês se conheceram, você
simpatizou com ele, ele estava
empregado,mas vocêdisse“venha
trabalhar comigo”; ele perguntou
quandoevocê respondeu“semana
que vem”. A proposta era boa e,
quando ele chegou, perguntou “o
que eu vou fazer”. E você respon-
deu“senta lá naquela cadeira que
euvoudescobriralgumacoisapara
você fazer: o que eu queria é que
você viesse trabalhar naAbril”.
Civita – É verdade, eu ainda faço
isso. Acho que quando você en-
}
Não importa se
você tem vaga ounão, pegue.
~
}
Quanta gente faz o que não gosta
porque tem de trabalhar.
~
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