Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2009
22
cidindo quem seria entrevistado
para a Revista – dizendo: como se
sente esse homem, num jantar em
sua homenagem, olha em volta e
vê que metade daquelas pessoas
que trabalharam para ele – ou ele
as mandou embora ou elas foram
por conta própria – e foram ser
líderes, foram ser gestoresdas suas
empresas, muitos deles com gran-
de sucesso. Isso é extraordinário
– você nos diz que não é um líder,
é um editor...
Civita – Não disse que não sou
líder. Quando, fora do Brasil, me
perguntam o que eu faço na vida,
digo que sou um “contador de
histórias”; quando me perguntam
amesma coisa noBrasil digo “sou
editor”. Mas quando vocês vêm
com este enfoque, confesso que
nunca pensei nisso, mas também
precisa ser gestor para ser editor.
Tem de ser.
JRWP – Quantas pessoas você
ensinou, inspirou, fez com que
fizessem aquilo que você queria...
Civita – Para mim era meio, não
era fim. Mas deixem-me começar
pelo fim. Acho que tudo começa
–oudeveria começar – comoque
vocêquer ser navida: númeroum;
número dois, aquela empresa que
você está dirigindo ou o pedaço
quevocêdirige, oqueelaéeoque
ela quer ser na vida. É a primeira
coisa que você tem de fazer – não
estou falando de pesquisas, mas o
que eu acho. Procuro sempre co-
meçar assim: qual é o objetivo, o
quenós somos, qual éanossavisão
do mundo, o que nós queremos
ser? São as primeiras perguntas,
antesdequalquer outra.A segunda
é “com quem eu vou fazer isso”,
ter absoluta convicção de que a
questão mais importante na vida
de um empreendedor, um fazedor
écomquem. Issoé tãoverdadeiro,
que depois da festa do Obama,
depois da maravilha dos Estados
Unidos terem escolhido um negro
para presidente etc., a pergunta
seguinte foi: “qual é a equipe que
ele vai montar”. Quem você esco-
lhe, como você os motiva, como
você os remunera e como você os
desenvolve – são as quatro coisas
fundamentais. A primeira coisa
é a seleção, depois motivação,
remuneração e desenvolvimento
das pessoas.Qualquer empresado
mundo, se não começar com isto
não irá a lugar algum.
JRWP – Você deixou uma coisa
de fora: como é que você se
separa deles?
Civita – Isso é meio automático,
meioconsequência.Você temde se
separar bem,mas issoéem relação
àsmulheres, com esposas, já casei
três vezes, me separei bem duas
vezes, continuo amigo das ex e
assim por diante.
Gracioso –Admitindo que esta
seja a sua visão: “atrair a gente
certa, desenvolvê-los, motivá-los
e retê-los tanto quanto possível”,
quantas dessas pessoas continuam
com você, qual a percentagem de
acerto ao longo desses anos?
Civita – Olha, não é razoável
esperar que todo mundo fique 50
anos numa empresa, mas a maio-
ria das pessoas de cujos nomes eu
lembro – e reconheço – ficaram
muito tempo naAbril.
Gracioso – Dos que hoje ocu-
pam cargos importantes, quantos
começaram a ser treinados mais
jovens dentro daAbril?
Civita–Todos têmmuitos anosde
casa.Achoqueé fundamental essa
questão de criar uma cultura forte
e de ter pessoas felizes por estar
trabalhando numa determinada
coisa.Mas admitoque émais fácil
amarumaeditoradoqueamaruma
fábricadecimentos–nadacontrao
cimento – você atrai outro tipo de
gente e não posso comparar com
uma redede supermercados.Acho
que temos um privilégio impor-
tante, embora não possa falar em
nomedos outros, nem generalizar.
Privilégiode nunca fazer amesma
coisaduas vezes, issoéumatrativo
fantástico – e, segundo, lidamos
}
A questãomais importante na vida de
um fazedor é com quem.
~
}
Admiro os homens que
resistem a pressões e tentações.
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