Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2009
24
contra talento, sensibilidade, inteli-
gência, integridadeeaquele toque
queé tão fundamental, não importa
o que a pessoa está fazendo, não
importa se você tem vaga ou não,
pegue.Depois vocêencontraalgu-
ma coisa para ele fazer.
Gracioso – Roberto, como
é que você motiva as pessoas,
principalmente executivos – fale
da motivação.
Civita–Achoque temdepergun-
tar também aos executivos, pois às
vezes oqueeuachoqueosmotiva
pode não ser o que eles acham.
Tem gente que me diz “Roberto,
não se iluda, todos estão aqui por
dinheiro e pelo bônus”; e eu digo
“nãoacredito”.Mas essaquestãoé
controvertida, todos têmdeganhar
a vida – é verdade – comer, pagar
as contas, mandar filhos para a es-
cola etc., e todos precisam de um
salário, mas, além disso, do que
vocêmais precisa é de se orgulhar
do que você faz.
Gracioso – Eu fiz esta pergun-
ta à Chieko Aoki e ela me disse
exatamente isto: “Eu façoosmeus
melhores homens sentirem-se or-
gulhosos do que estão fazendo”.
Civita –Você precisa se orgulhar,
identificar-se com a sua empresa,
terorgulhodela.PorqueaAbrildeu
certo e por que as pessoas gostam
de trabalhar aqui? Porque fazemos
as coisas bem feitas. Você tem de
fazer bem, seguir uma linha ética
queéessencial, fundamental nessa
questão –pelomenos aqui. Há50
anos, oumais, acredito que desde
oprimeirodia sempre separamos a
questão comercial da questão edi-
torial – em todas as frentes; não só
napolíticaounaeconomia,naárea
de produtos de beleza, na área de
automóveis, não misturamos; não
estamos à venda nem nunca esti-
vemos: não somos pressionáveis,
nãoaceitamospressãodegoverno,
de anunciante, de leitor, de amigo,
de sócio, de ninguém. Aqui vale o
que está certo e o que está errado.
Aspessoas gostamdisso, vocêatrai
gente que gosta disso e mais ou
menos rejeitaou expele as pessoas
que – digamos – têm “outra visão
domundo”.Acoisadequemaisme
orgulho, naAbril, é que – sem que
eu façanada – a coisa seperpetua.
Hoje comentei com alguém que
não poderíamos estar sendo éticos
numa determinada situação e a
pessoa se sentiuofendida, dizendo
“imagine, nunca faríamos isso”...
Fico feliz, até tranquilo com isso
porque – voltando à sua pergunta
– a cultura pesou, a cultura ou
atraiu a pessoa, que já tinha esses
princípios, ou influenciou-a.
Gracioso – Esse processo
– que começa com a cultura e se
reforça todos os dias, no traba-
lho diário – acaba criando, cer-
tamente, uma convergência de
pensamentos, atitudes e crenças.
Mas se é bom por um lado não é
tanto por outro: você acaba não
tendo a diversidade que precisa
ter numa empresa.
Civita – Boa pergunta, Gracioso.
Numa empresa grande, você tem
de ter certos princípios básicos. Eu
achoqueumdosprincípios–que se
temdeacrescentar –éadmitir een-
corajar opiniões contrastantes, tem
de respeitar a opinião alheia. Para
darmais um exemplo aqui da casa:
numa reunião, sempre fazemosque
omais jovem fale primeiro, depois
omenos jovem e assim por diante;
quantomenos sênior você for,mais
cedo você fala; porque – se você
inverter – o que fala primeiro diz
“euacho”,ese forovice-presidente,
presidente, diretor etc., os outros
ficam calados. Então, comece ou-
vindoprimeiroomais novo, omais
recém-chegado, isso ajuda. Depois
respeite, nãomateas idéiasquando
surgem, tem de ter cuidado com
isso,bastaumaexpressão,um levan-
tar de sobrancelha, uma mudança
de tom e, de repente, você mata
uma idéia.Adiversidade temde ser
encorajada, festejada e protegida,
nãovaiacontecerautomaticamente.
Écomodizer “ochefegostadeazul,
pinte tudodeazulenãoquerosaber
de outras cores”.
JRWP –Você fala de uma grande
empresa e eu já trabalhei em
}
Aqueles que dedicaram 10, 20, 30
anos não são descartáveis.
~
}
As famílias crescemmais depressa
do que as empresas.
~