Sustentabilidade_Janeiro_2010 - page 154

Os bancos
e a responsabilidade ambiental
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R E V I S T A D A E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2010
154
principalmotivoparaqueosbancos,
emparticular, estejammais envolvi-
doscomasquestõesambientaisestá
relacionadoaocréditopara tomado-
res commenor passivo ambiental.
Com efeito, a preocupação com as
potenciaisexigibilidadesdecorrentes
de impactos ambientais causados
por tomadores decréditoconstitui a
intersecçãoentreonegóciobancário
(crédito) e aquestão ambiental.
O maior passivo ambiental pode
influir na qualidade do crédito con-
cedidodediversas formas, dentreas
quais, por exemplo:
multas e custos de reparaçãode
degradaçãoambiental, quepodem
fragilizar o desempenho econômico-
financeirodo tomadordecrédito;
responsabilidadedobanco sobre
as ações degradatórias do toma-
doremprojetosfinanciadosporaquele.
Uma conduta, que leve em conta tais
preocupações, pode trazer vantagens
econômicas inequívocas, até porque
estudos recentes confirmam quemui-
tas empresas bem-sucedidas estão
relacionadas àquelas demelhor com-
portamento ambiental. Um sonho de
clientelaparaosbancosque,pormeio
damelhoria das condições de análise
creditícia, viabilizam ummodelo de
gerenciamento de risco em sintonia
comosprincípiosdaHipótesedePorter.
Além disso, a alta exposição dos ne-
gócios financeiros na sociedade tem
fomentadoo surgimentode iniciativas
tais como a administração de fundos
deinvestimentosemaçõesdeempresas
comcomportamentoambientalproati-
vo, cujoprodutonãonecessariamente
Naturalmente,oparadigmanãosealtera
de imediato, éumprocessoque exige
claramotivaçãoeidentificaçãodenovos
caminhosa seguir,oque requer inova-
çãotecnológicaemudançadeestruturas
de trabalho e produção. Para tanto, é
preciso investimentoe, especialmente,
alteraçãodasescolhaspriorizadaspela
sociedade. Essasmudanças estão ape-
nascomeçando,eoseuritmodepende
daparticipaçãoeda interaçãode todos
osagentes responsáveis.
Pois bem, comoos bancos seposicio-
nam nesse processo? Como qualquer
empresa, essas instituições possuem
razões econômicas para uma tomada
dedecisão.Adiferença em relação às
outras empresas équeos impactosdaí
decorrentes costumam ser, digamos,
mais significativos e visados. Convém
analisar algumas dessas razões eco-
nômicas, paramelhor avaliar comoos
bancosestãoatuandonessesentido.
De uma forma geral, o empresário,
em um primeiro momento, adotaria
medidas onerosas apenas quando
percebesse que eventual infração à
legislaçãoambientalestariapropensaa
serdetectadaeduramentepenalizada.
Felizmente,nãoésomentedessaforma
que as empresas podem fazer parte
desse processo demudanças. A ado-
çãode investimentosambientaisalém
da conformidade legal decorreria da
percepçãodequeosbenefíciosdeum
sistema de gestão domeio ambiente,
por meio da instalação de novas tec-
nologiasesistemasdegerenciamento,
podem aumentar a produtividade e
reduzir riscosecustosoperacionais.
Assim, quando os custos estão re-
lacionados ao controle de riscos
ambientais, o fato pode significar
uma postura estratégica da empresa
em detrimento de seus competido-
res, situação definida por Michael
E. Porter como hipótese “win-win”,
que conjuga o melhoramento das
condições ambientais e a eficiência
econômica. Ou seja, a utilização de
instrumentos voluntários por parte
de uma firma ou indústria pode ser
justificada, preliminarmente, quando
é percebida uma política em que o
custo-eficiência, segundo aHipótese
dePorter, representaganhodevalora
stakeholders
e de competitividade a
essafirmaou indústria.
Outra razão está relacionada à pres-
são comercial e social em se adotar
sistemas de gerenciamento ambiental.
Com efeito, pressões sociais podem
afetar diferentemente empresas de
ummesmo setor, sujeitas aosmesmos
requerimentos legais. A proximidade
comcentrosurbanos,a localizaçãoem
áreas de grande interesse ambiental, a
natureza da atividade e o histórico da
empresa podem afetar intensamente a
sensibilidade da firma às pressões da
comunidade. Às exigências dos con-
sumidorespodem juntarpreocupações
ambientaisepressõeseconômicas, jus-
tificandodiferençasnocomportamento
dasempresas.Porexemplo,acrescente
preocupaçãodosconsumidorescoma
qualidadedosprodutos temprovocado
pressãopelarotulagem“verde”,gerando
diferençasdepreçosparaessesprodutos
porsedestinaremaumacategoriaespe-
cíficadeconsumidores conscientesda
problemáticaambiental.
As razões econômicas paramudan-
ças, portanto, estão postas à mesa,
e parecem subsidiar a tomada de
decisão dos banqueiros na direção
de uma conduta mais “ética”. O
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