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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
a legislação brasileira e, do outro,
pessoascomoasquevocêsacaba-
ramdecitar –evocês, quesãopro-
fissionais dessa área e outros que
não estão aqui. Como juntar essas
coisas: a disponibilidade da televi-
sãoeacompetênciaprofissional dos
que estão lidando com isso?
FG
– E eu acrescentaria uma per-
gunta: o tempo gratuito é bom ou
ruim? Ouvimos, recentemente, de
um alto funcionário na área
educativa, que o marketing político
deve ser condenado porque teria
contribuído para alienar o jovem no
processo político. Então, a ênfase
queomarketingpolítico temnoBra-
sil, semdúvida, sedeve, emgrande
parte ao horário eleitoral gratuito.
Então, isso é bom ou é ruim?
Elysio
–Naminhaopinião, épéssi-
mo. Acho que uma das razões do
horárioeleitoral ser tãomal usadoé
porque é de graça. Imagine se al-
gumgrandeanunciantenopaísusa-
riaesse tempodo jeitoqueéusado.
Na sua maioria, é pessimamente
utilizado; e acaba quase virando
uma Lei Falcão – aquele candidato
falandocomaquela legendaembai-
xo,comonomeeopartido.Porquê?
Porque é de graça.
Marcelo
–Achoquevocêestáusan-
do um critério de mercado para
balizar uma dimensão política da
sociedade. Eu discordo, por dois
motivos. Se você for hoje aosEsta-
dos Unidos, a grande discussão é
de que o custo demídia, nas cam-
panhas, se tornou tãoabsurdo, que
quem não tiver ummilhão de dóla-
resparaseeleger deputadodistrital
não pode sequer começar o jogo.
Aqui, bem ou mal, você tem uma
opção – que é pouca, restrita, mas
dáuma chance.Asegundaquestão
équenãopodemosesqueceranos-
sa democracia. Tivemos a primeira
eleiçãopresidencial, nessepaís, há
apenas 13 anos. Não dá para com-
parar com uma democracia como a
norte-americana, em que os caras
vêm tendo eleição –mais fraudada
menos fraudada–desde1876.Elei-
ções numa Inglaterraque, em1300
e pouco, enforcou o rei porque não
queriaassinar cartadaconstituição.
Então, acho que o horário eleitoral
gratuito, durantemuito tempo, teve
uma função esclarecedora e
educativa.
JR
– Emmanuel, você é a favor ou
contra o horário eleitoral gratuito?
Emmanuel
– Não dá para respon-
der assim, sim ou não.
Stalimir
– Acho que se existe es-
paçogratuitoparaospolíticos, de-
veriam existir espaços gratuitos
para muitas outras coisas impor-
tantes, que não têm.
JR
– Não seriam produtos e servi-
ços, mas sim para asONGs?
Stalimir
–Exatamente.Paraquemtem
umamensagem,umcompromissoso-
cial enãodevia, necessariamente, es-
tarvinculadoaumpartidopolítico.
JR
–Essa é uma boa idéia.
Stalimir
–Eaquestãoeconômicaé
relativa também. Se o espaço para
a propaganda eleitoral é gratuito, a
produção é caríssima.
Elysio
– Não é gratuito. É gratuito
para os partidos, mas a sociedade
pagapor isso, porquehá isençãode
imposto de renda, nesse horário,
para as emissoras.
JR
–Num seminário em que estive,
recentemente, o Joelmir Beting dis-
se que não adianta fazer qualquer
prognósticoeleitoral,noBrasil,antes
do iníciodohorárioeleitoral gratuito.
Elysio
–E imagineoqueé isso,num
país em que os partidos não têm
representatividade política? Quer
dizer, um partidozinho qualquer –
semnenhuma representação– jun-
tameia dúzia de pessoas e, a cada
semestre, tem direito a dois minu-
tos em cadeia nacional, nomeio do
Jornal Nacional, em rádio e televi-
são, noBrasil inteiro. Issonãoéde-
mocracia; isso é outra coisa. Aliás,
alguémdisseque jabuticaba, pró-ál-