Maio_2002 - page 87

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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
Emmanuel
– Mas, quem prometer
isso ganha qualquer eleição.
Elysio
– Ummarido para cada ale-
mã. Amaioria dos homens solteiros
tinhammorrido, na Primeira Guerra
Mundial–haviaescassezdehomem.
E ele promete o que eramais dese-
jado pelo público feminino. Você vai
dizer que isso é absurdo, mas com
essa promessa ele foi eleito.
JR
–Achoque jáentramosnaques-
tãodosaspectoséticos.Numapers-
pectiva histórica, quando se fala do
Hitler, falamos também de “bode
expiatório”. Pode-seatribuir tudoao
Hitler, menos coisas boas. Só que
coisas queeram feitas no tempodo
Hitler, hoje, são feitas durante as
campanhas.
Emmanuel
– Mas, ruim não era a
propaganda – era o Hitler, a idéia
dele.Apropaganda nazista não era
tecnicamente ruim.
JR
– Os filmes da Leni Riefenstahl
devem ter ensinadomuita coisa ao
pessoal queestá fazendooscomer-
ciais do horário político.
Marcelo
– OHitler tinha umminis-
trodapropagandaeentretenimento
popular, queeraoGoebbels.Eledi-
zia para os cineastas: “Nãome ve-
nham com filmes políticos”. Porque
apartirdo instantequevocê trazum
filme político, mesmo que seja ten-
dencioso com a sua visão demun-
do, você força a população a pen-
sar empolítica.Vamosusar oentre-
tenimentocomoarmapolíticaepas-
sar a nossa concepção de mundo
através do entretenimento e emo-
ção. Essa lógica continua até hoje.
Imagine, hoje, um líder político que
fosse gordo, careca, fanho, com a
câmera fechadanele, dizendo: “Não
tenhonadaaofereceranãosersan-
gue, suore lágrimas”.Essecaranão
se elegeria nunca.
Elysio
–Eessecaraseelegeu.Cha-
mava-seWinstonChurchil, dizendo
issomesmoe sendogordo, careca,
fumando charutos…
Marcelo
–Mas omomento era ou-
tro. Não havia televisão.
Stalimir
–Vocêsestãodizendo, en-
tão, que o que serve para o Hitler
pode servir para qualquer um.
Marcelo
–As técnicas usadas pelo
Hitler – que na verdade não foram
nem dele, mas copiadas do Lenin.
Porque, quando começa a Revolu-
çãoRussa, quandooLeninchegaà
estaçãoFinlândia, umdosprimeiros
atos do governo russo foi chamar o
Eisenstein. Ele chama todos aque-
les cineastas, que estavam
dispersospelaEuropa,monta trens-
estúdios, o cara ia lá, filmava, reve-
lava, projetava tudo. E manda-os
sair pelaRússia, fazendo filmesdos
camponeses russos, representando
oqueeraavidaantesdoCzar ede-
poisdoCzar.EoHitlereoGoebbels
se inspiraram nisso...
Stalimir
–Minhaperguntanão teve
nenhum teor de ironia–estou falan-
do seriamente.
Marcelo
–AW/Brasil fezumcomer-
cial,algunsanosatrás,assim: “Esse
homem terminou com uma
hiperinflaçãodenãosei quantospor
cento. Esse homem construiu auto-
estradas”. Era tudo verdade e eles
mostravamoHitler.Oqueacontece
équeapropagandapolíticasempre
sevaleudameiaverdade.Oproble-
ma é que, quando você se vale da
meiaverdade,nadimensãodamas-
sa, na televisão, issoabreum flanco
para uma série de considerações
éticas – e pode levar, inclusive, a
uma série de atritos sociais, com
conseqüênciasgravesparaademo-
cracia.
Elysio
– Tenho uma opinião ainda
mais radical sobre isso. Não se for-
maopiniãopúblicanosprimeirosca-
dernos do jornal, política, econo-
mia…Forma-se sabeonde?No se-
gundo caderno; no cadernoB.
FG
– Queria aproveitar o que está
sendo dito, para propor um tema –
que me parece importante. OMar-
celo está dando exemplos de boa
propaganda política – hoje, chama-
ríamos de marketing político – ba-
seada em idéias e valores. Nós po-
demoscriticaronazismocomo idéia;
o ódio aos judeus como valor, mas
eram idéias e valores que foram
muito bem comunicados. Ao invés
“Oqueprecisaéde
um financiamento
públicode
campanhaatravés
deumsistemade
representatividade,
quedêchancesaos
partidosque
tenhamreal
densidadepolítica.”
“Aconcorrência
entrea
competênciade
quemécapazde
enganarcommais
habilidade.”
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