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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
tem nenhum escrúpulo de mentir
numa campanha política. Essa é
uma praxe.
JR
–Você está generalizando.
Marcelo
– Stalimir, desculpe, mas
seeleprecisamentir, éporqueéum
mau profissional. Você não precisa
mentir; só usarmeia verdade.
Stalimir
–Vocêpode terummaucan-
didatoeprecisarmentir.
Emmanuel
– Não. Você vai mentir
vendendo água?
Stalimir
– Tudo bem. Vamos cha-
mar demeia verdade.Meiamentira
oumeia verdade?
JR
–Entredizerumaverdadeeoutra
verdadeeoptarporumadelas, issoé
mentir?Éenganar, eticamente?
Marcelo
– Em 1988, trabalhei na
campanhadaErundinaaqui emSão
Paulo, degraça. Em1989, trabalhei
na campanha do Lula, ganhando
dois salários mínimos por mês – e
ainda recebíamos atrasados. Em
1990,meupai chegouedisse: “Che-
ga. Você não fez uma boa faculda-
de para ficar fazendo propaganda
para oPT. Até logo e vai ganhar di-
nheiro”. Fui para o Acre, para
Rondônia fazer campanha. E, entre
outrascoisas, coordenei distribuição
de pé esquerdo de botas. Chegava
lá, dava o pé esquerdo e dizia que,
sedepoisdaeleiçãohouverXvotos
aqui naseção, agentedistribui opé
direito. E essa experiência foi inte-
ressante, pelo seguinte. Eu acredi-
tava no candidato para quem esta-
va fazendoacampanha.Achavaque
ia ser umbom candidato.Masesta-
va usando ummeio que, paramim,
era nojento, de se fazer campanha.
Aquela coisa de “os fins justificam
os meios”. Saí dessa experiência
coma concepçãodequea reflexão
ética você temde fazer antesde ter
dado a sua palavra de profissional
de que vai fazer a campanha do
cara. Depois que você, como pro-
fissional, concordou que vai fazer
a campanha, sóháuma coisa feia:
é perder. Toda essa reflexão ética
anterior ao momento do contrato
– que nunca é escrito – é válida.
Eu sempre penso: esse candida-
to, para quem estou trabalhando,
é um candidato sadio para os va-
lores democráticos? Porque, sem
democracia, não existe nem ami-
nha profissão. Acho que essa é a
reflexão ética. Mas depois que
você foi lá, aceitou fazer, vocêdei-
xa de ser cidadão e passa a ser
profissional.
Stalimir
– É parecido com o racio-
cíniodo cigarro. É legal, pode fabri-
car, não é proibido. Então, por que
não pode anunciar?
Emmanuel
–Não.Ocigarrovisivel-
mente fazmal emata.
Stalimir
– Outro dia, me pergunta-
ram numa entrevista: “Você tem al-
guma restriçãoàpropagandade ci-
garro?Você faria?Existealgumpro-
duto de que você não faria propa-
ganda?”Eudisse: qualquer produto
que exista, legalmente, pode ser
anunciado.
JR
–Objetivamente, você trabalharia
nisso e você iria buscar um caminho
que estivesse de acordo com a sua
consciência…
Stalimir
– Desde que isso não vio-
lentasse asminhas convicções. Por
exemplo, não quero que meu filho
fume.Então,nãoconcordoemanun-
ciar nos horários emqueeleassiste
televisão.Achoqueessascoisas têm
queserbemesclarecidas.Porque,se
existe fumante,existedemandapara
o cigarro.
JR
–Mas issoéumacoisaparavocê
pensar depois que ganhou a conta;
não antes. Porque, para ganhar a
conta, muitas vezes, você usa de
qualquerartifício. Jáparticipei de tra-
balhos de planejamento, para ga-
nharconcorrências,ondenão impor-
tava muito resolver o problema do
cliente,masescrever aquiloqueele
desejava ler.
Elysio
–Nãoéparavaler; ésópara
ganhar a conta. Não vai ser coloca-
do no ar.
Stalimir
– Não se preocupe. Eu,
como redator,ouvi isso tantasvezes.
“Vamosusaro
entretenimento
comoarma
políticaepassara
nossaconcepção
demundoatravés
doentretenimento
eemoção.”
“Emanda-ossair
pelaRússia,
fazendofilmesdos
camponeses
russos,
representandoo
queeraavida
antesdoCzare
depoisdoCzar.”