Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
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esse ganho, essencialmente, através de
duas iniciativas: alianças estratégicas e
redução do número de plataformas.
A primeira émarcada pelo aprovei-
tamento de oportunidades de negócio
com risco compartilhado e acordos
operacionais com objetivos locais, em
que tradicionais concorrentes unem-se
paraproduzirmotores,peçasouatémes-
mo erguer uma fábrica específica. Um
dos exemplosmais recentes é a criação
daWorldwide Purchasing, uma opera-
çãomundial decompraconjuntaentrea
GM e a Fiat para aumentarem o poder
de barganha com os fornecedores. "Ela
nos ajudará a ser mais competitivos,
pois não precisaremos repassar a tota-
lidade dos aumentos aos preços dos
carros", sintetizaGianniCoda, superin-
tendente daFiat Brasil.Alémdessa as-
sociação, háoutrasparcerias comoada
Peugeot, que utiliza nos seus modelos
206brasileirosmotoresproduzidospela
Renault, na fábrica do Paraná; e a da
Chrysler, sócia mundial daMercedes-
Benz, que participa de uma
joint
venture
industrial comaBMW, também
para a produção demotores.
Jáem relaçãoàminimizaçãodonú-
merodeplataformas (umconceitocada
vezmais abrangente, que inclui a base
onde são fixados os conjuntosmecâni-
cos e também outros componentes),
busca-se amaior sustentaçãodemode-
los numa mesma plataforma. Ou seja,
a produção de diversos produtos e em
várias fábricas localizadas emdistintos
pontos, a partir de uma base única e
global. Em 1997, os principais veícu-
losvendidosnomundoerammontados
em101plataformas; para 2002, prevê-
se a redução para 60.
III.2. Brasil
que, sem dúvida, tornou-o responsá-
vel pelas mudanças tanto na escala,
como na divisão do setor e, simulta-
neamente, no grande filão domerca-
do nacional.
A hegemonia dos populares deve-
se também ao fato de a idéia do car-
ro popular sempre ter percorrido toda
a história da indústria automobilís-
tica brasileira, como sendo solução.
Com o mercado definindo-se por
seus produtos mais básicos, é nessa
faixa que a engenharia de produtos
brasileira inventa e o confronto en-
tre as marcas é mais forte.
Para também competirem nesse
segmento, montadoras que antes só
vendiam modelos compactos e mé-
dios passaram a desenvolver, pelo
menos, um produto de grandes volu-
mes a preços acessíveis em seu
mix
.
No entanto, uma nova medida, que
está em debate, pode por fim à su-
premacia do perfil popular: a unifi-
cação das alíquotas do IPI, na tenta-
tiva de estimular as vendas dos car-
ros que tenhammaior valor agrega-
do.Atualmente, oBrasil cobra IPI de
10% sobre os populares, enquanto
um imposto de 25% incide sobre ve-
ículos maiores.
Se admitida essa unificação, oque
na prática representará no fim do ar-
tifício legal que criou o popular, im-
plicações profundas ocorrerão em
companhias, como aVolkswagen, que
têm grande parte de seu vigor
operacional em função das vendas de
carros commotor mil cilindradas.
Matérias-primas e peças
Tributos
Distribuição e logística
Folha de pagamento (amão-de-obra direta)
Ranking
de representatividadeno custo total deprodução
1.º
2.º
3.º
4.º*
* dependendo da localização da fábrica e do seu nível de automação, pode representar menos de 10%.
Fonte: Investnews,16 de novembro de 2000.
Após 1992, o crescimento da in-
dústria foi bastante significativo em
virtude de vários fatores, como os
acordos no âmbitodaCâmaraSetorial
(1992), a abertura do mercado, os
grandes investimentos e oprocessode
interação dos membros da cadeia
distributiva, ou seja, uma relaçãomais
intensaentreosparceiros (B toB), tan-
to no processo de gerenciamento de
uma produção rápida, enxuta e flexí-
vel, comonodesenvolvimentoconjun-
to de novos produtos.
Essa integração é uma nova trajetó-
riaorganizacional, que incorpora inova-
ções tecnológicas e procura adequar a
inserção internacional automobilística
brasileira ao novo padrão competitivo
dos mercados crescentemente
globalizados.Ainda seguindoadinâmi-
cadomercadoglobal,odesenvolvimen-
to de novosmodelos é constante e o ci-
clo de vida dos carros gira em torno de
quatroanos.Mesmoa instalaçãodeuma
fábrica passou a ser uma atividade bem
mais ágil que no passado.
III.2.1. Populares
Com a redução do IPI (Imposto so-
bre Produtos Industrializados) no iní-
ciodadécadade90, o segmentodocha-
madocarropopular, demotor1.0, é res-
ponsável, desde então, pelo atual perfil
automotivobrasileiro: carrospequenos,
básicos e demaior acessibilidade. Dos
iniciais 4,32% das vendas de automó-
veis saltouparaosmaisde70%depar-
ticipação pela qual responde hoje, o
IV.Novos
concorrentes
Quando se efetivou a abertura do
mercado brasileiro em 1992, as opções
oferecidas pela indústria automobilísti-
ca brasileira ainda eram poucas e limi-
tadas, restringindo-se a quatro marcas,
que juntasdisponibilizavamsomente25
modelos ao consumidor. No entanto,