ClóvisdeBarrosFilho
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S E T EMB RO
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OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
As reflexões sobre liberdade de
imprensa, produzidas comchancela
acadêmicaou jornalística, discutem,
quase sempre, sua negação. No
Brasil,acensuraduranteosgovernos
militarespós64éobjetodeabundante
produção. Da simples denúncia a
sofisticadas análises sobre a singu-
laridadedas relações entreocampo
político e o jornalístico durante o
período, a literatura é de origem e
alcance heterogêneos.
Verifica-se, no entanto, algum con-
senso:duranteesseperíododanossa
história, a intervenção do Estado na
produção da mídia é considerada
arbitrária. O cerceamento da liber-
dade de pensar e expressar-se,
verificado ao longo do chamado
regime militar, é apresentado como
incompatívelcomoestadodedireito
e com a democracia.
Findo o regime, satisfeitos os em-
presáriosdanotícia, livresparacontar
as coisas do mundo segundo a sua
ótica, “ética, imparcial e objetiva”,
o temadacensurasaiudapauta.Um
ououtro
flashback
aindaéoferecido
aos berros por alguns candidatos, a
cada dia mais desesperados com a
pouca memória, com o desconhe-
cimento histórico, ou ainda com a
fluidez das preocupações numa
sociedade tãopós-moderna.
Mas nosso enfoque é outro. Não se
atéma trajetória recente.Maisdoque
a censura desta ou daquela publi-
cação, peça de teatro ou letra de
música, nossa reflexão é sobre
controle. Controle da produção da
notícia.
Qualquer limitação ou regulamen-
tação a uma atividade tem uma
causa social eficiente. Resulta de
uma relação de forças políticas.
Denunciaoplacardeum jogo.Con-
decora o triunfo de alguns, em
detrimento de muitos outros. O
argumentoquea justifica,noentanto,
sempre apontará para uma outra
causa. Uma causa final apresentada
como indiscutível. Uma represen-
tação de mundo ideal para ser
entendida como o fim de todos.
Afinal, não poderia ser diferente já
queprometeopróprio
bemcomum.
Fórmulauniversalizante, eficazparaencobriranaturezaarbitráriaeparcial dos
interessesatendidos.Barganha legislativaconvertidaemespíritopúblico.
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