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J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
Ruy
Mesquita
um sistema de espionagem.
Limitamo-nos, apenas, aabordar o
assunto, quando ele surge, pelos
meios convencionais. O próprio
Roberto Jefferson disse, na época,
quenão falouao
Estado
porqueele
nãooprocurou,mas a
Folha
sim.
JR
– Na nossa função de
especialistas em marketing,
costumamos dizer que pratica o
bommarketing quem vai buscar o
cliente.
RUY MESQUITA
– Esse tipo de
trabalho
requer
recursos
sofisticados.Fizemosmatériasdesse
tipo, no passado, com outros
objetivos. Por exemplo, o
Jornal da
Tarde
fezuma sériede reportagens,
em 1983, da qual me orgulho. A
esquerda dizia que o FMI era
culpadode uma porçãode coisas,
erasubmissãoao imperialismo,essa
linguagem que até hoje está em
voga, nas áreas petistas. Foi uma
sériesobreosproblemasbrasileiros.
Fizemos – com uma equipe de
primeiríssima ordem, no
Jornal da
Tarde
– uma série sobre as estatais
brasileiras,umaherança terrívelda
ditadura militar. Desde o Castelo
Branco, até o Geisel, tanto em
política externa quanto na política
econômica, tudoaquiloqueo Jango
Goulart prometia fazer – uma
estatizaçãobrutaldaeconomia–os
generais fizeram.QuandooGeisel
deixou o poder, havia mais de
duzentasestatais, todas semifalidas
porque eram cabides de emprego,
dirigidasporpolíticosdamilitância.
O sucesso foi enorme; a tiragemde
cento e poucos mil exemplares
chegouamaisdeduzentosmil. Foi
discutido no Congresso e houve
um debate, no teatro Maksoud,
entre o Fernando Henrique Car-
dosoeeu. Ele, naquele tempo, era
da esquerda radical. Conheço o
Fernando Henrique desde a
faculdade de filosofia, e até o
gozava, dizendoqueeledemorou
mais tempo – para “ficar
inteligente” – do que eu porque
eu já tinha renegado as convic-
ções estadistas e comunizantes,
hámuito tempo.
JR
–Mas ele conseguiu se eleger
presidente e você – se se
candidatasse – provavelmente
não conseguiria.
RUYMESQUITA
–Conseguiupor
um desses milagres, que só
acontecem no Brasil. Ele estava
pronto para encerrar a carreira
política, não tinha nenhum
sex-
appeal
eleitoral.Aí, porumdesses
milagres – como dizia Castro
Alves – “desce do além” essa
figura sinistra chamada Itamar
Franco, depois de quatro
ministros da Fazenda, descobriu
que deveria pôr o Fernando
Henrique. E ele foi eleito pelo
Plano Real.
GRACIOSO
–Nomundo da pro-
paganda, criamos umCódigo de
Ética emontamos uma estrutura,
unindo veículos, anunciantes,
agências, que permite punir os
queo transgridem.Nomundoda
imprensa, existe algoparecido?
RUYMESQUITA
– Claro. Quem
transgredir nossos códigos é
punido. Mas é um código limi-
tado – limita-se a não mentir, a
dar chance ao contraditório,
quando se faz alguma denúncia,
e ser o mais possível objetivo e
fiel à verdade. Houve um tempo
de grande poder dos “comunas”
nas redações.Dois deles estão aí
que não me deixam mentir.
FernandoMorais – que, naquele
tempo, era comuna – e o Paulo
Markun. Trabalharam comigono
Jornal da Tarde
, e eu dizia: aqui,
quando baterem o ponto, pen-
durem a carteirinhadopartido lá
fora e, quando saírem, vocês
pegam. Aqui dentro, vocês são
jornalistas.Todomundo sabequal
é o nosso sistema de trabalhar.
Mas essas punições são no estilo
brasileiro – advertência etc.
Houve caso de demissão. Faço o
“policiamento” do jornal como
meu irmão e meu pai faziam. O
editor-chefe ou o diretor de
redação têm autonomia, mesmo
porque não há maneira de
fiscalizar previamente o jornal
inteiro. Então, eles têm total
liberdade – e responsabilidade
também – que cobro no dia
seguinte, tanto do ponto de vista
ético quanto da qualidade da
matéria que sai.
JR
–Você sabequea imprensa livre
vivededuas fontesderenda,quesão
seus leitoreseanunciantes...
“ESSE NEGÓCIO DE ESQUERDA E DIREITA É ANTIGO
COMOA CIVILIZAÇÃO.”