Maio_2005 - page 52

ClóvisdeBarrosFilho
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S E T EMB RO
/
OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
AUTOR
CLÓVISDEBARROSFILHO
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
“Comunicação e Práticas de Consumo”
(ESPM–SP)
BIBLIOGRAFIA
produçãodanotícia.Nela,um“foca”,
recém-chegado, submete-se a um
processodesocialização,propriamente
jornalístico, que permite a incorpo-
ração das normas do espaço. Desta
forma, “oquedeve ser feito”,definido
por quem ocupa posições de domi-
nação, acaba sendopercebido como
“oque sópoderia ser feito”.
Essapercepçãotorna-seinquestionável
porquecompartilhada.Asocialização
singular ao campo jornalístico enseja
a interiorização de esquemas de
classificaçãodomundo–porexemplo,
em noticiável e não noticiável –
permitindo tomadas de posição no
camposemocálculoestratégicocusto
versus
benefício.Aprodução jornalís-
tica converte-se, em parte, numa
obviedade. Anatureza jornalística do
fato, numa evidência. A pertinência
da pauta, inexorável.
Essanatureza inquestionáveldoque
é noticiável é condição para que a
distribuiçãodeumcapital, propria-
mente jornalístico, seja desigual-
mente distribuído no campo, sem
que as regras do jogo, que assegu-
ram esta distribuição, sejam postas
em dúvida a cada instante. Como
toda dominação simbólica, torna-
se tantomais eficaz quantomenos
percebida como dominação. Res-
peita-se, portanto, “o bom jorna-
lismo”ouo“jornalismodequalida-
de” em nome de uma evidência,
deumaeficáciaprofissional, deum
compromisso com o leitor e, em
muitos casos, até mesmo, pasme
leitor, em nome de uma suposta
liberdade de imprensa. Definida
como tal por quem pode fazê-lo.
Aceitacomo talporquemquercon-
tinuar no campo. Entreo cinismo e
a alienação.
A liberdade jornalística tem limites de
conteúdoe,sobretudo,deforma.Nunca
apadronizaçãodevocabulário,deestilo,
deconstruçãode frases foi tãorígida.Os
manuais de redação e estilo, aplicados
com zelonas redações, definemo ter-
ritório prático dos redatores. A flexibi-
lidade das suas fronteiras depende do
capital específico, propriamente
jornalístico,quecadaagentedocampo,
noexercíciode suaatividade, pode ter
disponível. Estecapital, comoqualquer
outrocapital social, valenamedidaem
que é atribuído, reconhecido, aceito.
Assim,umcolunistaconhecido,quetem
leitores fiéis independentemente do
veículo, pode-se autorizar alguma
heresia.
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Desta forma, podemos dizer que o
campojornalísticoéoespaçoconflitivo
derelaçõesprofissionaisondesedefine
o trabalho jornalístico legítimo, o sen
sacionalista, o dizível e o indizível, o
ético e oque não é ético, oque eno-
breceaprofissãoeoqueaapequena.
Nesseespaço, agentesprocuram, para
as suas práticas, o rótulo mais con-
sagrador, imputando a adversários o
indevido ou o inaceitável.
Um espaço onde relações de poder
convertem-se em instâncias de
definiçãodeontológica,ondeaquiloque
simplesmente é, ganha estatuto de
dever ser.Nele, a liberdade jornalística
estávinculada tambémaonúmerode
empregadorespotenciais,àpluralidade
de pontos-de-venda da força de
trabalho.Quantomenor onúmerode
empresas voltadas à produção da
notícia, menor também será a
resistência possível.
Esse controle, convertido em regra,
acaba por se instalar na rotina de
ES
PM
1. GOFFMAN, E. A
– Sobre o conceito demáscara
e de perder a face, ler Goffman, E. A representação
do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes, 1999.
2. DUMAS, R. LE DROIT
– Sobre essa
interpretação ler de l’information. Paris, PUF, 1981.
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. – Para uma fundamentação
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PUF, 1985.
4.
Sobre ruptura simbólica e redemocratização, ler
nosso Brésil, l’écriture d’une constitution. Paris,
Politix, 1988, n. 1.
5. MARTIN
, – R. Le secret de la vie privée, Revue
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7. BADINTER, R
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10. BOURDIEU, P.
– Ce que parler veut dire. Paris,
Fayard, 1982.
11.
Sobre a singularidadeda estruturado campo
jornalístico, ler nosso Habitus na comunicação. São
Paulo, Paulus, 2003.
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