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R E V I S T A D A E S PM –
J U L H O
/
A G O S T O
D E
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Entre
vista
fixos e
freelancers
. E discutimos
todos os dias. Até às 13 horas fico
reunido com eles – que são espe-
cialistas em cada um dos assuntos
queconsideramos importantes. Em
economia,háquatroqueescrevem
diariamenteparanóseparao
Jornal
da Tarde
. A minha orientação é
política. Não domino todos dos
assuntos – só fazendo jornalismo,
nos últimos 56 anos, especializei-
me em generalidades; minha
formação permite-me discutir
qualquer assunto que interesse à
sociedadebrasileira.Mas respeitoas
áreas técnicas–economia, ensino,
meioambiente...
JR
– Vocês têm sido críticos,
especialmentenomomentoatual.
RUYMESQUITA
– Sempre fomos,
ao contrário do que dizem. O PT
dizia – no tempo do Fernando
Henrique Cardoso – que éramos
chapabranca.
JR
–A ideologiado jornalébaseada
em algum modelo ideal de
sociedadebrasileira?
RUYMESQUITA
–Não,porqueum
dosaspectosdonossopensamento
político énegar que existaum tipo
de modelo ideal. Há princípios
fundamentais, como a liberdade
política, liberdade de expressão, a
livre iniciativa–coisaquedividiuo
mundo, até omurodeBerlim cair,
e acabamos sendo vencedores...
Faço parte de uma geração que
nasceunoaugeda forçada fantasia
da revoluçãocomunista. Inclusive,
quando estudante, fui comunista.
Não temosnenhumaposição rígida,
anãosernesses trêsaspectos.Oque
salvouo Lula, atéhoje, foi a conti-
nuação – até mais ortodoxa – da
política macroeconômica do Fer-
nando Henrique. A opinião, hoje
emdia,émais importante.Anotícia
chega primeiro por outras vias;
quandoo jornal sai, todomundo já
sabeoqueaconteceu–pelo rádio,
televisão, e agora, cada vezmais,
pela Internet. A informaçãoé igual
em todos os jornais.
GRACIOSO
– Quero fazer duas
citações, para seus comentários. A
primeira é de Winston Churchill,
talvez num momento de mau
humor:“Nãoexisteopiniãopública;
existe opiniãopublicada”. E, antes
dele, Demócrito dizia que “só
existemátomoseovazio; tudomais
éopinião”.
RUY MESQUITA
– Não há ne-
nhumamaneiradedefinir precisa-
mentequal aopiniãocorreta sobre
qualquer assunto. Até sobre fenô-
menos científicos há divergências.
Comodizia,oPalocciprocurou-me
no início do governo. Inclusive,
levou daqui um ex-companheiro,
que trabalhava na seção de
economiaeéoseu
ghostwriter
.Não
aparece,mas secomunicabastante
comigo. E os outrosministros, que
são atingidos pela nossa crítica, já
estiveram aqui várias vezes. Disse
ao Lula, antes de ele tomar posse,
que era um torcedor furioso do
governo dele. Essa coisa de dizer
que o
Estado
sempre foi oposicio-
nista é balela. Vou contar um caso
quedefineamentalidadequemeu
pai nos transmitiu. No tempo do
GetúlioVargas – um governo de-
mocrático, em que fecharam esse
jornal e exilaram meu pai duas
vezes–,o jornal elogiavaapolítica
econômica e atacava a política
política; sempre achouque ele era
um homem nocivo à sociedade
brasileira e o combateu, politica-
mente,de todasas formaspossíveis.
Erapolíticademeupai ter comen-
taristasestrangeiros–paraquenão
fossem influenciados pela política
nas suas posições críticas sobre a
política econômica dos governos.
Atéhoje, temosum resquíciodisso
que é o Robert Appy VERIFICAR –
pai do Appy, que é o segundo
homem doministério do Palocci –
foi trazido da França, por meu pai
parasubstituiroGilesLapouge,que
também era comentarista econô-
mico. Houve também o Frederico
Heller – um austríaco. Essa é a
influência dos jornais. A televisão
não faz isso. Quem expôs – em
amplitude e profundidade – o
projetodepoder doPT, depois das
denúncias, foram os jornais e as
revistas.
JR
– Como você viu a escolha do
deputadoRoberto Jefferson,de fazer
as suas denúncias à
Folha
?
RUYMESQUITA
–A
Folha
temum
jornalismo investigativo muito
melhor do que o nosso. Mesmo
porquenão énossa especialidade.
A
Folha
e a revista
Veja
têm quase
“O ESTADO TEM UMA COERÊNCIA NA
LINHA EDITORIAL, DESDE A FUNDAÇÃO.”