maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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Alexandre –
O atual governo diz
privilegiar a indústria, mais do que a
administração anterior. Paradoxal-
mente, a indústria está encolhendo.
Ming –
Em parte, porque [
o governo
]
está propiciando um crescimento
maior dos serviços, que estão redu-
zindo a oferta de trabalho [
mão de
obra
] para a indústria. Hoje, com o
crescimento do consumo, há um
aumento brutal da demanda por
serviços: cabeleireiros, empregados
domésticos, autônomos, assistência
técnica, mecânicos, profissionais
de finanças.
Alexandre –
O setor de serviços pre-
cisa crescer em detrimento da indús-
tria ou a indústria poderia e deveria
estar crescendo junto?
Ming –
A indústria poderia e deveria
estar crescendo junto, até porque
não está conseguindo suprir a de-
manda interna e há muito já não con-
segue exportar. Precisa haver uma
nova revolução industrial no Brasil.
Alexandre –
Quais seriam as bases
dessa nova revolução industrial?
Ming –
A primeira questão é a de
matérias-primas e energia. A se-
gunda é a cambial. A terceira é a da
redução de custos de produção, do
custo Brasil, especialmente impos-
tos. Quarto ponto: é preciso criar
um mercado externo, aumentar a
capacidade de exportação pela am-
pliação do mercado. Isso exige novas
negociações comerciais.
Alexandre –
Os juros sempre foram
apontados como fator determinante para
a anemia da indústria. Dizia-se que o
Brasil era umpaís de rentistas, onde valia
mais a pena aplicar dinheiro no mercado
financeiro do que investir na produção.
Os juros estão numpatamar inédito e, no
entanto, a indústria não cresce. Eles não
eram, afinal, tão importantes?
Ming –
Não eram tudo isso que esta-
vam dizendo, como o câmbio não é.
Sempre tivemos graves problemas:
custo Brasil, educação, mão de obra,
os velhos problemas de competitivi-
dade. Até recentemente, o governo
compensava com mais câmbio essa
falta de competitividade. Só que agora
não podemais fazer isso.
Alexandre –
Por que não?
Ming –
Mais câmbio [
dólar mais caro
]
cria problemas não só na inflação,
mas tem toda a nova matriz de in-
vestimentos do Brasil. Se tiver mais
câmbio, a Petrobras está perdida. Ela
depende de fornecimento externo de
máquinas e plataformas [
que ficariam
mais caras
]. Mais que isso, o Brasil de-
pende de capital externo. Se você bota
o câmbio [
o dólar
] lá para cima, como
fica? Quando o câmbio chegou a R$
2,10, foi um problemaço para a Petro-
bras. A indústria, que cada vez mais
depende de fornecimento externo de
insumos, matérias-primas, compo-
nentes e máquinas, se deu mal, por-
que teve de pagarmais por tudo isso.
Alexandre –
O país tem eleição ano
que vem, e todos os analistas políticos
dizem que a presidente Dilma é favorita.
É provável, salvo por um acidente de
percurso, que, uma vez reeleito, este go-
verno tenha de decidir se vai radicalizar
ou rever o modelo.
Ming –
Há umdado novo nessa equa-
ção, que é a consciência das classes
produtoras. O empresário percebeu
que o negócio dele está prejudicado.
Até recentemente, o que faziam a
Fiesp e a Confederação Nacional da
Indústria?
Alexandre –
Pediam corte de juros
e aumento das tarifas de importação.
Ming –
Queriam um conjunto de
câmbio e juro. Juro baixo e câmbio
alto. Queriam liberação das impor-
tações de matérias-primas e pau no
produto acabado. Defesa intransigen-
te do produto acabado. A agenda do
empresariado era essa. Mas jámudou.
Perceberamque não dámais.
Alexandre –
Querem o que agora?
Ming –
O empresariado está meio
perdido, mas coma percepção altera-
da. Mudou o discurso, pois percebeu
que redução dos juros não resolve
o problema. Já sentiu que o câmbio
bateu onde podia chegar. Mesmo
que consiga empurrar o câmbio,
isso não vai resolver o problema de
competitividade do Brasil. Então,
os empresários vão começar a lutar
pela sobrevivência. Qual a nossa po-
lítica? Para onde temos de empurrar
nossos dirigentes? O empresariado,
hoje, está encurralado.
Se o Brasil crescermais, vai prejudicar omercado de
trabalho, criando umcusto extra brutal.Opaís não
pode crescermuitomais. Opotencial de crescimento
do Brasil hoje não é demais que 3%ao ano