Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 71

maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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O
mundovive, desde2008, umacriseeconômica
de grandes proporções. Cinco anos depois da
quebra do Lehman Brothers, ainda se observa
o fraco desempenho da economia mundial, e
milhõesdepessoasmundoafora, emespecial nascamadas
mais jovens da população, encontram-se desempregadas.
Nesse cenário, o chamado neoliberalismo foi colocado
àprova. Issoporqueacriseeconômicamundial é, antesde
tudo, uma crise dopróprio liberalismo, isto é, doprocesso
de hegemonia do ideário liberal econômico inaugurado
no século 18, por Adam Smith, e que, ao longo dos anos,
passoupor váriosdesdobramentos, ganhando forçaainda
maior apartir dosanos1980comoprocessodehipertrofia
das finanças, diante da ausência da regulação do Estado.
Compreender as origens e a base argumentativa do
liberalismonosajudaamelhor entender ascausasdacrise
econômica mundial, bem como nos permite evidenciar
a necessidade de um processo de regulação exógena dos
mercados financeiros.
Durante a era pré-capitalista, a sociedade foi regida por
dois princípios fundamentais: o temor a Deus e a necessi-
dade de umEstado forte. Até então, partia-se da suposição
de que a natureza conflituosa dos homens e o egoísmo, na-
tural e intrínseco aos indivíduos, justificavame tornavam
necessáriaapresençadareligiãoeainterferênciadoEstado.
Entretanto, diantedanecessidadedodesenvolvimento
capitalista, asnovas classesquesurgiamnecessitavamde
uma filosofia política diferente, na qual pudessem justifi-
car sua existência livre das amarras do Estado.
Um caminho nesse sentido seria tentar demonstrar a
existência, nos indivíduos, de uma natural benevolência
para com os outros, capaz de fazê-los olhar com simpatia
asatitudesdosseussemelhantes,poisseosindivíduosnão
fossemnaturalmenteegoístaseconflituosos,nemareligião
nemoEstadosefariamnecessários.Entretanto,tallinhade
argumentaçãomostrava-sepoucosustentávelpelasimples
observação da relação dos homens emsociedade.
Eénesse contextoque se insereo trabalhodeSmith, que
em1776 resultou no livro
A riqueza das nações: investigação
sobre sua natureza e suas causas
(Editora Nova Cultural,
1996). Emvez de tentar negar o óbvio, ele admite, sim, que,
nodomínioeconômico, osentimentoque realmentepreva-
lece é o do individualismo, o do egoísmo. Porém, para ele,
a contraposição de diferentes interesses particulares não
redundaria, necessariamente, emconflito.
O julgamento impessoal do mercado e a livre concor-
rência acabariam por produzir resultados alvissareiros
porque, em última instância, as forças da oferta e da
procura (a mão invisível do mercado) se encarregariam
de coordenar e conciliar os egoísmos privados, transfor-
mando o egoísmo natural dos homens em virtude social.
Coma noção demão invisível, Smith tratará de demons-
trar que o indivíduo serve melhor ao interesse coletivo
precisamente quando se preocupa em servir a seu próprio
interessepessoal.Movidosporpulsõesegoístas,indivíduos
livresecomdireitonaturalàpropriedadeacabam,noproces-
sodeinteraçãosocial,porproduzirumasociedadepróspera
e em equilíbrio, em que, cada um buscando o seu melhor,
conduz a sociedade como umtodo a uma situação também
melhor. Essas características correspondemapenas a uma
vocação espontânea e natural do organismo social.
Oquenão serianatural, portanto, é impedir a operação
dessa mão invisível. O livre mercado passa a ser, desse
modo, ocaminhopara aprosperidadehumana, desdeque
não haja interferências exógenas ao sistema.
Smithacabaassimporseropioneirodeumatradiçãoque
terá novos desdobramentos dados por Jeremy Bentham,
NassauWilliamSenior,WilliamStanley Jevons, LéonWal-
ras, Arthur Cecil Pigou, pelos neoclássicos, novo-clássicos
e, até mesmo, pelos novo-keynesianos. Para essa tradição,
a ação livre de agentes racionais e maximizadores, sem a
intervenção do Estado, resultará, como na física newto-
niana, emuma ordemestável, harmônica e emequilíbrio.
Em sua visão, os problemas da economia ou a eclosão
das crises devem ser atribuídos apenas às tentativas de
interferir nas leis que governamo livremercado. Qualquer
tipo de interferência nos mercados, por parte do Estado, é
entendida como nociva e antinatural, e só se justificaria
desde que fosse para garantir condições necessárias ao
sucesso da iniciativa privada.
Smith evidencia, claramente, essa questão ao delimi-
tar as áreas em que a presença do Estado se justificaria:
proteger seus cidadãos da invasãodeoutros povos (defesa
das fronteiras); manter um sistema de justiça capaz de
proteger todo membro da sociedade da injustiça e da
opressão, seja contra sua integridade física e moral, seja
contra a sua propriedade; e criar e manter instituições
Alivreatuaçãodamão invisível,
emespecial nosmercadosfinanceiros,
revelou-sena formade crise econômica
internacional degrandesproporções
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