Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 63

maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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Essadefasagemtécnicaeconceitualcriariasituaçõesde
vácuosregulatóriosdentrodosquaisascrisesseriamgesta-
das. Osmecanismos cegos, que olhamsemver, perderiam
acapacidadededetectarriscos.Nessasfrestasregulatórias
e zonas de sombra que os riscos de hipotecas e derivativos
duvidososseriamcamuflados,asustentabilidadedadívida
soberana seria superestimada, a ineficácia das políticas
macroeconômicasdeajusteseriaexpressaeaimportância
estratégica de inserção internacional seria relativizada.
Também teria sido por esses pontos cegos regulatórios e
frestas conceituais que os aviões suicidas de Lower Ma-
nhattan teriampassado em11 de setembro. Os radares do
Estadoamericanonãoestavampreparadosparaidentificar
ameaças não governamentais, subestatais. Tanto no caso
dos aviões suicidas quanto dos derivativos suicidas, a
gestão de risco mostrou-se inoperante por desadaptação
conceitual, instrumental e por falta de coordenação.
NoBrasil, osmesmos debates sobre a eficácia regulató-
riasereproduzem,comsuasespecificidadesecoreslocais,
e buscam encontrar soluções para questões latentes que
agora começama ser conjugadas comas transformações
da globalização econômica. O desafio de construir uma
inserção mais proveitosa na economia contemporânea
parece passar tambémpela readequação de políticas pú-
blicasepeloenfrentamentodeproblemasestruturais, tais
comoodesafiodemelhorar as infraestruturas, aeducação
ea inovação. E, comisso, desvencilhando-sedaarmadilha
de não ser mais competitivo nas partes mais baixas das
cadeiasdevalor, ouseja, naproduçãoemontagemdebens
manufaturados, semainda adquirir competitividade nas
fases mais altas das cadeias, dominadas pela inovação,
tecnologia e conhecimento. Aqui, essa ameaça do
middle
income trap
se conjuga coma ameaça de distanciamento.
Como lembra Fernand Braudel, em
Civilisation matériel-
le, économie et capitalisme
(Armand Colin, 1980), cada
momento histórico produz o seu conceito de distância
específico, localizado nas suas áreas “fora do tempo do
mundo”. No mundo contemporâneo, seriam as cadeias
globais e seu espaço econômicodefluxos e conectividade
que definiriam o contemporâneo conceito de distância,
que pouco tem a ver com a proximidade geográfica. Esse
conceito estámuitomais relacionado ao grau de conecti-
vidade com as cadeias globais.
Como acontece no plano internacional, o desafio que
se impõe hoje não está necessariamente expresso nos
termos de uma opção entre estratégias estatizantes ou
privatizantes, mas em como desenvolver técnicas de
coordenação entre as múltiplas e diferentes instâncias
de governança, capazes de coordenar mecanismos lo-
cais, subnacionais, nacionais, regionais, internacionais,
sejam eles públicos ou privados. A crise de 2008 e seus
desdobramentos recessivos exemplificariam,mais que o
fracassounilateral de estratégias, sejamelas estatizantes
ou privatizantes, a incapacidade social de coordenar as
diferentes instâncias regulatórias que atualmente coabi-
tam irremediavelmente o esforço de governança.
Fernando Padovani
Professor da UERJ e da ESPM-RJ
Osataques terroristasde11desetembrode2001 tiraram
muitagentedas ruasemudaramocenáriodeWall Street
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Tantono casodos aviões suicidas
quantodos derivativos, a gestãode risco
mostrou-se inoperante por faltade
adaptação conceitual e de coordenação
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