maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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financeiro, acabaram por exercer grande influência sobre
os governos, tornando extremamente difícil para estes
impor, àqueles, regras às quais se opusessem firmemente,
ou seja, quaisquer medidas regulatórias que impedissem
seu livre movimento. Ao contrário, os governos, como já
eravislumbradoporSmith, passarama se preocuparmais
em ganhar e conservar a sua confiança, não só tentando
atrair esse capital para dentro de suas fronteiras, como
evitando a sua fuga.
Nessecenário,aspolíticaseconômicasforamsendo,em
grande medida, “determinadas” por esses agentes que se
encontravamemposiçãode impor suasexigênciaspor ele-
vadastaxasreaisdejuros,reduçãoouisençãodeimpostos,
desregulamentaçãoe aberturadosmercadosfinanceiros.
Pelo seu poder de pressão, qualquer tipo de atuação do
Estado na economia passou a significar, antes de tudo,
uma atuação destinada a não confrontá-los, mas, sim,
auxiliá-los nos seus interesses, em uma espécie de “di-
tadura dos credores”, como aponta Jean Paul Fitoussi, no
livro
Le débat interdit. Monnaie, Europe, pauvreté
(Editora
Arléa, 1995). Passou-se a apregoar que o papel do Estado,
como defendido por Smith, deveria restringir-se apenas a
atuarnossetoresemquesuapresençafosseessencial,bem
comoagarantir odireitoàpropriedadeprivadaeo respeito
aos contratos.
Entretanto, a crise de 2008, desencadeada nos Estados
Unidos a partir do chamado mercado de hipotecas de alto
risco (
subprime
), acabou por revelar as tensões e contradi-
çõesdesseprocesso.Aocontráriodaalegaçãoliberal,cujos
problemas da economia ou a eclosão das crises deveriam
ser sempre tributados às tentativas de interferir nas leis
naturaisquegovernamamãoinvisível,oqueseviufoiuma
crise oriunda do excesso de liberalismo e da ausência de
regulação do Estado sobre osmercados financeiros.
A livre atuação da mão invisível, em especial nos
mercados financeiros, revelou-se na forma de uma crise
econômica internacional de grandes proporções. As con-
sequências desse processo tornaram-se bem visíveis aos
olhosdemilhõesdepessoasquehoje sofremaangústiado
desemprego, do desalento e da falta de esperança.
É preciso compreender que o mundo atual é bastante
diferente daquele observado pelo famoso economista
escocês do século 18 e que a tal mão invisível serve ape-
nas para explicar o funcionamento demercados concor-
renciais, tendo pouca contribuição a dar em ummundo
marcado cada vez mais por grandes conglomerados
empresariais e financeiros, organizados em estruturas
de mercado quase sempre oligopólicas, nas quais a lei
da oferta e da procura pouco ou nada serve para explicar
seus movimentos.
É necessário entender que, no mundo contemporâ-
neo, o homem, interagindo livremente e procurando
individualmente o seu melhor interesse, ao contrário
do que imaginava Smith, não conduzirá, necessaria-
mente, a coletividade à harmonia e à prosperidade, da
mesma forma como ocorre em um cruzamento de vias
movimentadas, que na ausência de um semáforo ou de
um agente de trânsito (ausência de regulação), cada um
buscando o seumelhor interesse (nesse caso, transpor o
cruzamento o mais rápido possível), acabará por condu-
zir as vias a um imenso congestionamento, resultando,
portanto, numa situação que poderá vir a ser pior para
todos os envolvidos.
Orlando Assunção Fernandes
Doutor em Teoria Econômica pelo IE/Unicamp.
Professor e supervisor acadêmico de Economia da ESPM
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Comanoçãodemão invisível, Smith
mostraque o indivíduo servemelhor ao
interesse coletivoquando se preocupa
emservir a seupróprio interesse