Janeiro_2003 - page 104

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Revista da ESPM – Janeiro/Fevereiro de 2003
Qualapercepçãoqueascriançastinham
das figuras que decoravam as caixinhas
conhecidascomoMiniValleKid's,quaisos
seuspontos fracose fortes, que fantasiase
associações elas suscitavamequal a iden-
tidadeeodiferencialqueelasproduziamna
mentedopúblico infantil? Taisfigurinhas
jásecompunhamcomoverdadeirosperso-
nagens? Qual adinâmicaque seestabele-
cia entre elas, na percepção das crianças?
Esseserampontosquepreocuparamentão
aSucosDelValle.
A SINAL-Pesquisas saiu a campo
atrás de respostas para essas questões,
noprimeirosemestrede2001, buscando
a avaliação dos personagens das emba-
lagensde sucosprontosDelValledesti-
nadas aopúblico infantil.
Apesquisautilizou técnicasprojetivas,
comodesenhosehistóriasfeitospor crian-
çasde5a10anosde idade,dasclassesAe
B, residentes em São Paulo. A partir da
observação desse material foi possível
analisar suas reações às embalagens,
elucidando o significado dos persona-
gens dos sucos Mini Valle Kids, no
universomental das crianças, doponto
de vista da criação de vínculo emocio-
nal, do papel nas fantasias e das possi-
bilidadesde identificação.
Realmente,ascrianças têmmuitomais
a dizer sobre os produtos que conso-
memdoqueosadultospodem imaginar.
Sãoobservadoras, detalhistasecompar-
tilhampressupostos fundamentaisa res-
peito domundo em que vivem e do pa-
pel do outro dentro dele.Mas é preciso
conhecimento técnico, além de perspi-
cácia, para entender seu jeito de inter-
pretar a realidade.Costuma ser sutil.
Por exemplo, foi consenso entre as
criançaspesquisadasoseguintegrupode
impressões: os personagens eram "pe-
quenos e frágeis"; pareciam "correr
perigo",comooriscodeacidente;nãopa-
reciammanterrelaçãodeamizadeunscom
os outros uma vez que todos usavam
óculos escuros (sic!); eram sujos e
precisavam de banho; entravam em bri-
gas eacabavammachucados, tinham for-
mas estranhas, como a uva "com sete
cabeças" e assim por diante. Amaioria
das histórias que eles criaram com os
personagens trazia um final não muito
feliz, ouuma descriçãodas figuras como
"é que auva, ela tem7 cabeças, aqui : 1, 2 , 3 , 4, 5, 6,
7 cabecinhas...mas sóquena verdade oque eu estou
estranhando é que parece cabeçasmas não são; isso
daqui sãoas uvinhas que agente compra, que é a cara, a
boquinha, onarizinho, que é aperninha e obracinho,
mas parece que ela tem7 cabeças"
seres estranhos.
Tanto as meninas como os meninos
sentiram, ainda, a falta de definição de
gênero nos personagens da linha Mini
ValleKids e se incomodaram como fato
de todosusaremóculos escuros.Acrian-
çaquer ver e ser vista, e a faltadeolhos
nos personagens os desperso-nalizava e
não lhes transmitia confiança. A
indefinição do gênero foi digna de nota
em todasashistóriasecomentários,uma
vez que opúblicopesquisadovivia jus-
tamente a fase de desenvolvimento da
identidade como menino ou menina.
Aausênciada linhade terra, comoéde-
nominado tecnicamente o espaço infe-
rior deenquadramentodospersonagens
ouobjetosdeumdesenho, equede fato
não existia na série pesquisada, era ou-
tro fator de comprometimento da iden-
tificaçãodascriançascomas figurasdas
embalagens. Elas não tinham um chão
para se sentir seguras. Nashistóriasque
as crianças contaram, os personagens
eramatropelados, esmagadosouenfren-
tavam outras situações desastrosas.
" O tubarão comeu o limão que estava surfando. Ele
estava com as pernas amarradas, não conseguia sair.
Estava mordido pelo tubarão, morreu."
" era uma vez uma fruta que andava de bicicleta que
tombou, amassetou-se e formou um suco."
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