Janeiro_2003 - page 96

RevistadaESPM– Janeiro/Fevereirode 2003
101
momento.30milhões foionúmero
do Betinho. E ouvi 11 milhões de
uma fontedogovernopassado.Eu
atribuo também isso a essa
dificuldade funcional de que você
está falandoequeseconstatanum
líderpolítico importante,queacaba
detornar-senossopresidente;num
homem da respeitabilidade do
Betinho, professor universitário e
uma fonteoficial, que também era
uma pessoa com formação. Por
queessasdiscrepâncias?
CM– Issoé frutodeumacoisaqueo
Brasilnão levouasériodurantemuito
tempo e que acaba, inclusive, nos
prejudicando,porque todasasnossas
amostrassão feitasemcimadedados
oficiais.Eosdadosoficiais, noBrasil,
sempre forammuito precários. Têm
melhorado, de uns quatro anos para
cá, tanto no nível do IBGE, como do
TSE. O IBGE para nós é importante
porqueéemcimadeseusdadosque
fazemosasprojeções.Oexemploda
fomeocorrepela faltadeumconceito,
decritérios.Doqueestamos falando?
De miséria total ou de uma
“semifome”? De pessoas que só
fazem uma refeição por dia ou
pessoas que não comem nada?Até
para a definição de analfabeto, se
vocêpegaroTSEeo IBGE,osdados
são conflitantes. Tanto assim, que o
IBOPE faz levantamentos próprios,
para verificar a questão de instrução
primária,secundária,superiorporque
os dados oficiais não batem. Essa é
uma das razões por que decidimos
investir nisso.Claro, éumasemente,
mas – daqui a dez anos – terei os
dados reais de analfabetismo no
Brasil. Issoémuito importante,porque
às vezes estamos lidando com um
“chute” e cada um apresenta seus
números como quer – ou há a
ausência total de números oficiais
mas, principalmente, de critérios. O
analfabetismo funcional éumcritério.
Lembro-medeque, quando levamos
a idéiaparaoMinistroPauloRenato,
ele levouumsusto. “Poxa!Acadaano
que passa, diminui o analfabetismo,
jáestáem11%.Agora,vocêvemcom
analfabetismo funcional!”
JR–OBrasil temproblemas,mas
eles ocorrem também internacio-
nalmente.AONU finalmenteques-
tionou a comparabilidade dos
númerosdePIB.Querdizer,nãose
pode comparar o PIB de um país
demoeda forte com o de um cuja
moedaestádesvalorizada.
CM – Não só problemas de meto-
dologia. Eu, por exemplo, tenho
críticaspessoais–esérias–sobrea
inflação–comosecalculamas taxas
de inflação.Existem itens importantes
quenão fazempartedocálculo.Ehá
outros,que fazemparte,masnãosão
essenciaisnavidadobrasileiro.Virou
moda,noBrasil, falarem “risco-país”.
Divulga-se que o risco do país
aumenta, diminui. É outro absurdo
porquenãoseexplicitaque risco-país
é de uma seleção de 20 a 30 países
emqueosmuito ricos investem.Não
sedizqueháoutros170países, que
não fazem parte, porque o pessoal
sequerpensaem investir lá.Àsvezes,
tem-se a impressão de que estamos
atrás de Uganda, Nigéria, Equador,
Paraguai etc., quando não são nem
cogitados como receptores de
investimento. Há coisas que devem
sermaisexplicadas,maisexplícitas–
asquestõesdemetodologiaecritério.
Éumabsurdoque todomundoqueira
reajustar os preços – serviços
públicos,gasolina–em funçãodeuma
especulação de petróleo, uma
entressafrademandioca.
JR – Essa inabilidade funcional
acaba favorecendo os especula-
dores mal-intencionados, até
porque levamumacertavantagem,
emconhecimento.
CM – Até nessa questão da fome,
você pode usar a palavra
especulação
. Quando um diz que a
fomeé20, outrodizqueé30eoutro
diz que é 50, não deixam de estar
especulando em cima da fome. E
precisamos saber o dado exato das
pessoas que realmente estão
passando fome;daspessoasquesão
muitopobres,masnãopassam fome,
porque o brasileiro é solidário, há
sempregente, na família, queajuda.
Outracoisacomque temosque tomar
cuidadoéaquestãododesemprego.
Às vezes, numa família de cinco
pessoas, trêsestãodesempregadas,
mas duas estão empregadas, até
bem, ea famíliaacabavivendo.Ehá
oproblemadaeconomia informal.
JR – Você deu uma boa resposta,
ao dizer que o instituto que
manipulasse os dados estava-se
autodestruindo. No entanto, esta-
mos conversando aqui sobre
manipulação de dados numéricos
porváriasentidades,algumasbem-
intencionadas,comoONGs.Outros
que se dizem bem-intencionados,
comoos jornalistas. Mas, sevocê
“OBrasil ficou
tanto temposem
eleiçõesque, hoje
emdia, dáaula
paraomundo
todo.”
“Apretensão
dapesquisa é
informar a
população
sobreoplacar;
nãodecidir o
resultado.”
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