RevistadaESPM– Janeiro/Fevereirode 2003
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JR – Fora do Brasil, está acon-
tecendocommais freqüência?
CM–Achoque todomundodeuuma
meia trava… O pessoal está se
reciclando.
JR – Há quem diga que o com-
putadoréaportaerradaparaentrar
na casa das pessoas. Que as
pessoasvão-secomunicarpelaTV
eépreciso tornar aTV interativae
não transformarocomputador em
televisão.
CM – Pode ser. Isso é uma previsão
arriscada, mas acho que podem
acontecer as duas coisas. No fundo,
acreditonaTVinterativadentrodaInternet.
Achoque,umahora,todasasmídiasvão
fluir e você vai poder fazer sua
programaçãode filmes, jornais,música.
JR – É a questão da pergunta
criativa. Por que não questionar
certas coisas? Quem disse que a
Internetprecisaestar ligadaatravés
de computador? Não necessaria-
mente. Se há uma rede e ela é
eletrônica, no mundo todo, e
permite que as pessoas se
comuniquem – hoje, é através de
computador.Masprecisaser?
CM – Não necessariamente. Mas
muita gente apostou na Internet, há
3, 4 anos, e vi idéias simplesmente
desabarem. Ainda acho que se trata
deumadas grandes descobertas da
época. Também a histeria está
diminuindo. Mas não há dúvidas de
que se trata de uma mídia nova –
porque tiraaaudiênciadasoutras.Se
você está sentado na Internet, não
estávendo televisão.
JR–Hoje,vocêvêmuitaspessoas,
no escritório, trabalhando no
computadoreouvindoaRádioFM
através do próprio computador.
Tecnicamente, nada impede que
você tenha a sua televisão
conectadaà Internet.
CM –Acho que, no futuro – não sei
qual futuro–vai haver umaconfluên-
cia,na rede,sejaatravésda televisão
oudocomputador.Acreditoquevá ser
a televisão.
JR–Numaentrevista recentecom
o Eugênio Staub, da Gradiente,
falamos exatamente sobre isso.
Mas,Carlos,gostariadeconversar
comvocêsobreumoutroaspecto
da pesquisa que, no Brasil, me
parece mais crítico do que em
outrospaíses: adificuldadequeo
brasileiro tem de lidar com
números. Nósnãosomosumpaís
matemático. Você mencionou o
tempo da ditadura. Lembra – no
tempodaditadura–nossoministro
das finanças foi, muitas vezes, o
DelfimNeto–eraumhomemmuito
poderoso.Eletinhaohábitode lidar
comdadosestatísticose–quando
entrevistado – soltava aqueles
números, enemos jornalistasque
o entrevistavam entendiammuito
bem. Como é que você vê esta
questão?Você não acha que isso
pode atrapalhar um pouco a
pesquisa, a dificuldade no uso da
estatística?
CM–Realmenteatrapalha.Evocême
deu espaço para falar de uma coisa
interessantequeestamos fazendo.Já
notamos isso, na divulgação dos
dados das pesquisas políticas, onde
nós–e imaginoosoutros institutos–
queremoscadavezmaisprecisãonos
números. Mas o eleitorado não está
interessado em saber com quanto a
pessoa ganhou, qual foi a diferença,
seestavadentrodamargemdeerro.
O que vale para eles é: Fulano vai
ganhar? Vai. Ganhou? Ganhou.
Então,acertou.Sevocêdisserquevai
ganhar com 55% e ele ganha com
70%,ninguém liga,vocêacertou.Mas,
paranós,éumerrocrasso.Àsvezes,
em eleições muito disputadas, erra-
se o vencedor, mas o resultado fica
dentro da margem científica. Mas o
quemarcaéo fatodequevocêerrou.
Isso demonstra a falta de intimidade
de grande parte dos brasileiros com
osnúmeros.Quandoseconversacom
os jornalistas, que vão fazer a
cobertura das eleições, procuramos
ser bem didáticos, explicar como
interpretar, fazer asanálisesetc., em
relação aos números. Mas a gente
percebe uma dificuldade muito
grande. Isso temmelhorado, a cada
eleição, mas ainda é complicado.
Pensando nisso, o IBOPE abriu um
Instituto,queéumaONG–o Instituto
Paulo Montenegro, com o nome do
meupai.Decidimosque tínhamosque
investir emalguma coisaparaajudar
opaís– foi umaunanimidadedeque
deviaser emeducação. Fundamoso
Instituto até para retribuir um pouco
doqueopaísnosdeunessesúltimos
seis anos. O foco do Instituto Paulo
Montenegroéaeducaçãoeestamos
funcionandoem três frentes.Oprojeto
“Nossa escola”, para ensinar
pesquisasaosalunosda1.ªa8.ªsérie.
“Aavaliaçãodo
FHCestavamuito
ruim. Qualquer
candidatodo
governo teria
dificuldade.”
“OFernando
Henrique foi, dois
anos, primeiro
ministroedepois
maisoito anosde
governo.”