ENTREVISTA
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
24
suíçaespecializadanaproduçãodo“relógiodaele-
tricidade”,quemedeadensidadequeentra, indús-
triaaté trivial.Aprimeiravezquequis falarcomo
presidente,ÁlvaroDias,ligueiedepoisdefalarcom
aquartasecretária,atendeuumavozmasculina.Era
ele.Issomefezpensar:játemalgumacoisadiferente
nessaempresa.Ele fezumprojetoqueapelidoude
Quero-quero,metáfora comumpássaroque tem
noParaná.Convocouadiretoriaepediuquetodos,
comodiretores, representanteseacionistas, escre-
vessemoque queriam. Depois sugeriuomesmo
exercícioaumgrupodefuncionários,perguntando
oque eles queriam como empregados. Ao juntar
as listas, percebeu que queriam, praticamente, a
mesma coisa.Osprimeirosqueriam funcionários
competentes,inovadoresemotivados.Enquantoos
funcionáriosdisseram:“queroumaempresaqueme
prestigie,medêoportunidadesdecrescimentoeque
ouçaasminhas ideias”.Ambos falaramde forma
diferente amesma coisa. Aí vem apergunta: por
queestamosbrigando?Éaquestãodaconciliação,
éproblemadeentendimento,umabobagem.Tenho
viajadomuitoenotoque temdoispaíses,Françae
Itália,ondepersisteaindaaquela ideiadeCapitale
Trabalho,comocoisasdiferenteseantagônicas,que
sãodemônios e anjos, não se conversam e lutam
contra. Isso éumdesserviço à sociedade e ao ser
humano.BastairaParis,paravermoscomoosfun-
cionáriosparamometrôafimdemostrarqueeles
têm forçaparapararopaís. Issocustauma fábula,
inclusiveparaoprópriosaláriodopovo,porquesai
dealgum lugar,acontaé fechada.
HIRAN
–EoquevocêsobservamnaAlema-
nhaenoJapão?
TOLOVI
–NaAlemanha jáébemdiferente.AEu-
ropa toda tem isso,queveio,obviamente,derazões
históricas,dasmonarquiaseseussúditos,queéalgo
muito separado: opessoal quenão trabalhae tem
dinheiro,eaquelesquetrabalhamenãotêmnadaou
têmmuitopouco,comoaburguesia.Asociedadefoi
mudando,chegouaosdiasdehojeecriouafantasia
deque“opresidentedaempresanãotrabalha”.Mas
sabemosmuitobemquequantomaisvocêsobe,mais
trabalha.Claroque,comtodaageneralização,estou
cometendomuitasinjustiçasporquetemosempresas
muitoboas.UmadelaséaDecathlon&LeroyMerlin,
que temum ambiente fabuloso e é uma empresa
familiar.Lá,ogerenteda lojapodecriar iniciativase
atémudaropadrãodevendas.Aideiaéanalisadae,
seforboa,ésugeridaparaasoutraslojas.NaFrança,
conversei com algumas pessoas, que falaram com
enormeentusiasmodaempresa,ogerentedalojase
sentemaisdonodoqueofundadordonegócio.Esse
conceitoeuropeuvaimudarporqueasnovasgerações
chegarãonessasposiçõescomopessoasdiferentes.
GRACIOSO
–Eissoacabacomosocialismo,não?
TOLOVI
–Dependedoque seencara como socia-
lismo;eleacabacomosocialismo,domeupontode
vista, retrógrado, e criaum socialismo real, ondea
sociedadeéumtodoqueincluicapitalistas,unscom
maisdinheiroeoutroscommenos.Oquenãopode
éumasociedadetípicademocráticaondesetemum
passando fome e o outro comprandohelicóptero,
issoéoquenãoqueremos.Asociedadeigualitáriaé
utópica,sabemosquemesmonasempresaspodemos
dizer que seremos socialistas e todos na empresa
ganharãoamesmacoisa.Masnãoéjustoatémesmo
comoesforçoque cadaum fezpara chegar aonde
chegou,devehaverumarelatividadenisso.Oqueela
nãopodeégerarumasociedadecomoaquetemos,
infelizmente, namaioria daAmérica Latina, uma
sociedadecomessedesequilíbrio,semfalarnaÁfrica.
GRACIOSO
– Falando de remuneração. As
empresasconsideradascomoumbomlugar
para se trabalhar pagammais oumenos
do que as demais em termos variáveis da
remuneração total?
}
Um problema que as empresas têm é o de confundir
umbom lugar para se trabalhar comum lugar divertido,
ondeganhomuito, trabalhopoucoe façooquequero.
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