Valores_Marco_2010 - page 60

ENTREVISTA
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
60
GRACIOSO
–Gregori, depoisdepassar 25
anos na presidência da Escola, aposentei-
me, mas continuo cuidando da
Revistada
ESPM
para a qual estamos lhe entrevis-
tando.Apublicação temcomo temabásico
“Cultura e valores na sociedade e na em-
presa”, mas isto, de forma alguma, deve
limitar o escopo da nossa entrevista que
é sobreDireitosHumanos. Naturalmente
gostaríamosdeouvir,suaopiniãosobreos
direitos individuaiseosdireitos inerentes
ao conteúdodevaloresdeuma sociedade,
em um determinado momento. Para dar
início a esta entrevista falaremos da sua
vidadedicadaaosdireitoshumanos.Como
você encara esses anos todos que passou
batalhando; seestá felizcomasituaçãodo
Brasil eoque faltanessecampo?
JOSÉGREGORI
–Emprimeirolugar,queroagra-
decerofatodeteremlembradodomeunomepara
figurarnuma revista tão simpática, abrangentee
estimuladora.EssaquestãodosDireitosHumanos,
comotudonavida,édifícildepesquisaraorigem:
onde é que nasce o rio? Tem-se algumas ideias,
mas,precisamente,quandoexplodeaespoletado
interesseporumtemaédifícildizer.Poucoatende
àminhamaneiradeser,maissujeitaaodiálogo,é
saber queasquestões sempre têmvárias facetas,
certa antipatia congênita pelos que se julgam
donosdaverdade.E, também, porquehouveum
fato acidental, imprevisto, mas quememarcou:
aosnoveanosperdimeupai, assassinado. Euvi,
desde criança, as sequelas da violência, o que é
umafamíliaserpraticamentedizimadanaquestão
das expectativasde futuroedeapoiodo“chefe”.
E, exatamentepor causadisso, fui entendermais
profundamenteessaquestãodaviolência. Isso foi
acontecendoaospoucoscomaparticipaçãointensa
navidaestudantil ea leituraqueficavamais fácil
quandoosautoreseramoquechamamosde“hu-
manistas”. Comoum rio, fui procurandoomeu
curso.De repente, naminhageraçãodeu-seum
contravapor.Achávamosquedepoisdoperíododo
JuscelinoKubitschek, depois da tragédia deGe-
túlioVargas,oBrasil tinhapassadoparaocampo
democráticodefinitivamente.Nadaabalariaessa
transposiçãodeumregimeque já tinhasido forte
nopassado e, com a queda doGetúlio, passaria
a ser democrático. De repente aconteceu que o
Brasil, por mil razões, foi para um regime forte
de cunhomilitaristae como sempreé inevitável,
em situações iguais em qualquer país, há uma
necessidade de pessoas se socorreremde outras
para fazer valer os direitos. Fui convidado para
fazerpartedeumaONG ligadaà igrejacatólicae
conduzidapeloCardealDomPauloEvaristoArns.
Essegrupodepoucaspessoasreunia-seacada30
dias comoCardeal, quedizia ter sidoprocurado
pela família tal, quenão sabiaodestinodofilho,
donoivooudomarido,porqueestavamemdúvida
se houve um sequestro ou uma prisão. Na boa
tradição luso-brasileira, essa família, não tendoa
quem sequeixar, vai sequeixar aoBispo, sóque
oBisponãoeraBispo,masCardeal.Aí começou
essaatividadede tentarajudardecifrandoopara-
deirodepessoas recolhidaspeloquesechamava
na época de “sistema de segurança” doRegime
Militarvigente.Eufixo,nessemomento,omeuen-
gajamentomaisnítidoeconsequenteaosDireitos
Humanos.Nãotenhocertidãodebatismonemde
nascimentodahoraemque comecei essaminha
lutamodesta pelos direitos humanos, mas acho
queelaficoumaisconscientenaminhamemória,
apartirdessa faseemqueascoisasnãoeramteó­
ricas e sim concretas. ORegime de então tinha
muitagentebem intencionadae convictadeque
eraomelhorcaminhoparaopaís.Masaverdade
éque,nãosendoumregimedemocrático,sempre
há, inevitavelmente, apossibilidadede “quistos”
quevãoganhandoautonomiaese regempor leis
próprias,oumelhor,por leinenhuma.
}
Os direitos humanos se universalizaram. O fundamental
hoje é abrir as portas do desenvolvimento para todos.
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