J o s é G r e g o r i
março
/
abril
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
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umserpulsante.Exatamenteporissoéqueadou-
trinadosdireitoshumanos tem certa severidade
em julgar o que seja “direitos humanos” para
afastaressaideiadequecadaumteráasuaprópria
ideiasobreosdireitoshumanoseassimficadifícil
cumpri-los.Defendoodireitohumanocomoum
valor intrínseco, frutode uma luta anterior, que
passouporumcrivonacional e internacional em
váriosCongressoseganhounamaioriadospaíses
ostatusdeDireitoConstitucional.
GRACIOSO
– Interessante esta ênfaseque
vocêdáaumaval internacional.
JOSÉGREGORI
–Semdúvida.Sóassimteremos
uma sociedade perfeitanessa longa caminhada
dahumanidadequesaidascavernas. Jáchegao
tempoemque,semexageros,podemosdizerque
sevivenãonumacivilização,masnumtempoem
queháespaços civilizatórios funcionando.Uma
humanidadequetemumSãoFranciscodeAssis,
um Beethoven, umaMadre Teresa de Calcutá,
umDanteAlighieri, umaDeclaraçãoUniversal
dosDireitosHumanos não éumahumanidade
qualquer, é algoque pode falar em aspectos de
civilização.Essacivilizaçãosóserárealmenteum
fato generalizável, quando a maioria dos paí
ses comungaremna consciência enapráticade
alguns valores. Não adianta umpaís conseguir
avançosextraordináriossozinhoeoseuvizinho
praticar um tipo de vida totalmente diferente,
porque o progresso se interrompe na fronteira.
Valorizomuito o aspecto internacional porque,
paradoxalmente,avidamodernavemdeumfato:
tem cada vezmais gentenomundo, nãohouve
nenhumaépocaemque se tivessemenosgente
doqueantes,ésempremais. Issocolocanecessi-
dades,problemas,conflitosquesópodemserbem
resolvidoscomoesforçodetodos.Nãovejo,hoje,
onarcotráficosemumasolução internacional.O
problemadodesenvolvimento, tendoemvistaa
complexidadequeganhouaeconomia, também
nãoterásoluçãosempontoscomunsemquehaja
umpartilhamentodedecisões,umacoordenação
geraldeesforçosem todoomundo.
GRACIOSO
– E isso exige também que se
aceitem as diferenças. Sinto no Brasil de
hoje uma tendência muito grande a se
fechar a tudo que é diferente, a tudo que
vemde foraequenãocorrespondaànossa
maneiradeverascoisas.
JOSÉ GREGORI
– Exatamente. O lubrificante
mais adequado para fazer essas engrenagens
decoordenaçãononívelmundial sãoosdireitos
humanos.Porqueelecolocaemprimeiro lugaro
problemada igualdade–nãodauniformidade–
nosentidodeque todosnascemcomocriaturas,
sejapor féouporvontadedocriador.Quantoao
problemadodireitoàdiferença, nós temos essa
igualdade, frutodamesmadivindadeque todos
intrinsecamente têm, do final que vamos ter,
portanto, a lei da igualdadenão superao fatode
que todos,semexceção,somoscriaturasfinitase
não temosapossibilidadedeumadiferenciação
a respeitodahorafinal...
DE SIMONI
– É o único ponto comum
entre todos.
JOSÉ GREGORI
– É o ponto absolutamente
comum e, sobretudo, na falta de previsibilidade
dessemomento. Ninguém sabe, nem o próprio
suicida,quevaimorrernodiaX,nahoratal.Esses
problemasque facilitam, comoum lubrificante,a
vidapartilhada,avidaconvivida,avidacivilizada
sãoespecificidadesdosdireitoshumanos.Épreci-
soquehajaumacaminhadacomumdereflexões
com amadurecimento nacional e internacional,
para se poder dizer que “tal coisa é um direito
}
Essacivilização só será realmenteum fatogenera-
lizável, quandoamaioriadospaísescomungaremna
consciência e na prática de alguns valores.
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