Valores_Marco_2010 - page 64

ENTREVISTA
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
64
humano”. Por exemplo:mais diaoumenos dia,
a inclusão digital será considerada um direito
humano,porqueohomemsemcomputador,hoje,
émeiohomem.Comageraçãoqueaindaémais
fruto da enciclopédia do que doGoogle e que
aindaestáviva,aindasecontrabalançaumpouco,
masdaqui a30anos sóvai tergentequenasceu
soboguarda-chuvadocomputador,doGooglee
daWikipedia,ouseja,aquelesquenãosouberem
manejara internetvãosermaisexcluídosdoque
oanalfabetodehoje.
DESIMONI
–Aproveitando essadeixada
“época digital”, como conciliar a liber-
dadede imprensa, a informaçãoobjetiva
na mídia – que são alguns dos direitos
humanosmencionadosnaEncíclicaParte
Interis,doPapaJoãoXXIII,queosenhor
conheceu pessoalmente, e que, sob a
ótica dele, são anteriores ao Estado, são
próprias da natureza humana e princi-
palmente – diz ele – “são originários de
Deus”, filosoficamenteperguntando?
JOSÉ GREGORI
– Essa possibilidade de você
conviver nummundo onde cada vez temmais
gentecolocaalgumascoisascomofundamentais
e que não podem deixar de existir, como, por
exemplo, vacinasqueevitemmalescoletivos.
GRACIOSO
– Nesse contexto seria lícito
queoEstado,devidoaessacomplexidade
cadavezmaiordomundo,entendesseque
édo seudireito controlara informaçãoe
amaneiradepensar das pessoas?
JOSÉGREGORI
–Não, exatamenteporque vai
produzir um efeito contrário. Toda quebra de
espontaneidade temumpreço.Há certas forças
quevêmdasociedadeequedevem terumcurso
espontâneoe ilimitadodopontodevistada sua
manifestação, mas não sujeitas a determinadas
consequências. Umadas regras básicas de todo
odireitohumanoéque“vocênão temque fazer
para o outro aquilo que não quer fazer para si
mesmo”.Vocêtemodireitodepôrnopapelasua
opinião,mas se issoprejudicar alguém, se você
infringir algum tipo de consequênciamoral ou
materialparaessealguém,vocênãoestáisentode
responderpor isso.Masesseéo limite,ouseja,aí
entramuitomaisaéticadoqueumdepartamento
especializadodoEstado,mesmoqueumconse-
lho, compessoasmaisbemdotadasdopontode
vista cultural, faça essa arbitragem, nunca dará
certo. Em conversa com os representantes das
emissoras de televisão, eu disse a eles: “Vocês
precisam fazer com que o ofício que exercem
e o instrumento que têmnasmãos produza as
melhores consequências na sociedade. Como
sugestão, o ideal seria que vocês elaborassem
umCódigo de Ética”. Épor aí que a coisa deve
caminhar.Nãoeu, comoSecretáriodosDireitos
Humanos, representandooGoverno,dizerpara
osdonosdeemissorasdeTV, rádioe revistaque
eles têmde seguir esse caminho, aindaque seja
para respeitarosdireitoshumanos.Minha ideia
é essa e acreditoquefiz o correto enquanto es-
tavanoGoverno, que foi dizer: “vocês têmuma
influênciamuitomaiordoque imaginamporque
sãoa janeladamaioriaesmagadoradapopulação
parase informareprecisamterconsciênciadisso.
É claro que a coisa não pode ser feita na base
demanual porquenão vai dar certo,mas vocês
precisam ter referênciasmais claras no que diz
respeitoàqualidade,padrãoe limiteético.”
GRACIOSO
–O recipiente dessa comuni-
caçãonãodeveriaopinar nesse código?
JOSÉGREGORI
–Claro que
também ele, já que no mo-
mento – e queira Deus que
sejasóummomento–háuma
crençadequesóadesqualida-
deéque tempúblicoeconse-
gueoaplausodoauditório.Eu
não vejo assim.
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