Valores_Marco_2010 - page 57

março
/
abril
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
57
Os valores perenes existem independentes de
nós, e estão sempre voltados para todos e tudo.
Pornão se centrarememnós, elesnos instigam
aestendernossavisãoparaalémdenósmesmos,
eperceber queparticipamos da existência junto
comincontáveisentes.Inseridosnomundo,parti-
lhamoscomtudoetodosumdestinocomumem
cujaconstruçãonoscabeescolheropapelquenos
corresponde.Nessaperspectiva,nossaexistência
já não se restringe ao que almeja ou necessita
umenteparticular.Estequese fezconscientede
si (e depois de tudoomais emmeio aoque ele
existe), descobrequenãonasceu sópara si. Ele,
que se fezconscientedo tempo (edepoisdoque
transcende o tempo), descobre que não nasceu
sóparaadimensãofinitaemqueseencontra.
Valores individuais
ecoletivos
O século XX caracterizou-se pelo confronto
entre valores individuais e valores coletivos.
Em ambos os casos, valores temporais. O ad-
ventodaspreocupaçõesecológicasnasegunda
metadedoséculopassadoabriuumadimensão
de valores que transcendem tanto o individu-
alismo como o coletivismo. Ao ampliar para a
natureza nossas responsabilidades perante a
vida, começamosaassumirquenossosvalores
incluemnãoapenas sereshumanos,mas tam-
bémminerais, vegetaiseanimais.Mesmocom
umhorizontemaisamplo,nessaabordagemos
valores ainda são criaçõesnossas.
Quandoumbiólogo, James Lovelock, nos olhos
doprimeiroastronauta, entreviu,nãoapenasum
serhumano,vendopelaprimeiravezaTerra,mas
simGaia,adeusadaTerra,vendoasimesmaese
conhecendoatravésdosolhoshumanos,umanova
perspectiva,umnovoreferencialseabria.Oantro-
pocentrismopor séculosdominantenoOcidente
começavaadarlugaraumacosmovisãoampliada
paraaVidadaTerra,doSistemaSolar,doUniverso.
Maisdoque isso, inverteu-seadireçãoúnicaem
que o pensamento se dirigia. Antes era sempre
e sódo ser humanoparaomundo.Nahipótese
deGaia, opensar e saberhumano sedescobrem
inseridos numa dimensão que nos transcende.
PorqueGaia busca conhecer a simesma, é que
nóspensamose indagamosquemsomos.
Numsentidoanálogo,osvaloresdaVidadocos-
mos refletem-senobípede implumequehabita
o planeta azul inspirando-o a formular valores
pelosquaispassaasepautareorientar.Por longo
tempo ele nem se dá conta de que desde além
vemoque lhepareceautônoma iniciativasua.
Atéque,aospoucos,dabrumadensadoesqueci-
do,comonumsuavedespertar,aquelequebusca
osentidovêclarearodia.Por todaparte rebrilha
áureo valor. AVida impregnade sentido a vida.
Aopequenino ser que se fez cônsciode si (e de
queháoqueo transcende), a cada instante, lhe
sãooferecidasasduaschancessempreconcedidas
pelaVida:Poderaprendercom tudoecom todos.
Poder servir a tudoea todos. Aindaquedistin-
tas, as duas condições se interligam. Só sepode
aprenderservindoesósepodeserviraprendendo.
Os valores perenes, quando impactamo ser
humano, inspiram-noavivernãoapenaspara
si,masparaaVidaqueháemtudoeemtodos,
vivernãoapenassegundooseuprópriosaber,
mastambémemsintoniacomasabedoriada
Vida.AVidaquenostranscendeconvidaavida
emnósparaquedecentrípetaseconvertaem
centrífuga,desolitáriaseconvertaemsolidária.
Atéonde sabemos, sobreoplanetaazul só
nósnosguiamosporvalores, enãoapenas
por instintoenecessidade. Istoquenosdis-
tinguedoquantonoscircunda,étambémo
quenosaproximadoquenostranscende.O
legadoquenosvemdealém,doque trans-
cende nome e forma, do que os chineses
chamavamdeCéu, fundamentaestemodo
humanodeviver, acivilização.
JamesLovelock,nosolhos
do primeiro astronauta,
entreviu, não apenas um
ser humano, vendo pela
primeira vez a Terra, mas
simGaia,adeusadaTerra.
ES
PM
Arquivo pessoal
GUSTAVOPINTO
FormadoemFilosofiapelaPUC-RJ, especialização
emNishiyamaBetsuin,Quioto,conferencistaconvida-
donasuniversidadesdeBerkeley,Lausanne,Viena,
Othani Kyoto, Oxford, autor de
Relâmpagos, Gotas
deOrvalho
,e
RitodaMontanhaSagrada
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