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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
Mesa-
Redonda
álcool é sério, porque dependência
química é séria. O ingresso – pelo
alcoolismo – de adolescentes é
enorme, e a propaganda de cerveja
é charmosa demais...
JR
– Omaior consumo de bebida,
per capita
, no Brasil, é de cachaça,
que não anuncia.
CARLOS ALBERTO
– Mas se
passarmos diante de qualquer
colégio,nahoradasaída,vemos,nos
bares, adolescentes, de manhã,
tomando cerveja. Omundo que a
propaganda passa é um mundo
glamouroso, não obstante se faça o
apelo “beba commoderação”...
FRED
– A pergunta do J. Roberto é:
há má vontade? Há implicância da
sociedadeem relaçãoàpropaganda?
Acho que sim e por motivo
significativo: grande parte da
sociedade brasileira está fora das
possibilidades de consumo. E boa
parte da história da publicidade do
Brasil sempre foi voltada para uma
parcela restrita da sociedade, que
tem condições de consumir. Só
recentemente temos visto publi-
cidade dirigida a categorias C, D e
E. Issocriou,no imagináriobrasileiro,
uma relação do publicitário e da
publicidade com as categorias
sociais elevadas. Então, por que
confiar nessas pessoas?Nas décadas
de 70, 80, todos os produtos
veiculados na hora da novela eram
nobres, amaioria da população não
tinha condição de consumir. Isso
transforma a própria atividade da
publicidadenuma ficção.Foi issoque
criou, no imaginário brasileiro, uma
certa implicância com relação à
publicidade.
GRACIOSO
– Desculpe-me, mas
essa implicância é forte, realmente,
entre os intelectuais. E discordo da
idéiadequeosprodutos anunciados
sejam consumidos por minorias, no
Brasil. A televisão está presente em
95%dos lares.Acerveja,consomem-
se 60 litros
per capita
por ano.
PEDRO
– Acho que a implicância
fica nítida, quando se toma o exem-
plodaTVCultura.QuandooMarcos
Mendonça assumiu, iniciou um
processo de popularizar o canal e
gerou resistência por acabar só com
os “apoios” comerciais e abrir a TV
Cultura para anúncios, por exemplo
daCasas Bahia, que é exatamente o
contrário do que faz a TVE, no Rio.
Muita gente questiona, dizendo:
“Uma TV pública pode veicular
anúncio como uma TV comercial?”
OMarcos diz: “Eu quero atrair o
público da classe D. Não estou
fazendo uma TV pública para a
classe A. É por isso que estou
colocandoanúnciodaCasasBahia”.
JR
–Éumpoucooqueacontececom
a universidade pública. Ficam os
serviços públicos servindo aos que
não precisam dele.
CARLOS ALBERTO
–Na pauta, há
um item relacionado com issoque é
essa multiplicação de
blogs
na
Internet. A Internet, hoje, está sendo
um canal muito interessante de
democratização da informação e de
manifestação de liberdade de
expressão.
FRED
– Isso acaba enfatizando uma
perspectiva individualista e até de
pequenos grupos. A resposta, para
mim, é clara: tem de ser via organi-
zação civil. Assim comoo indivíduo
deveria se relacionar com o Estado,
não como indivíduo, mas por meio
das organizações da sociedade civil:
em sindicatos, associaçõesdebairro,
clubes etc. A mesma coisa em
relaçãoà imprensa,queéumgrande
poder, frente ao indivíduo, desigual;
masháapossibilidadedeo indivíduo
lidar com esse poder, organizando-
se em associações.
GRACIOSO
– Fui procurado por
alunos quedisseram estarmontando
um
site
–por iniciativaprópria–para
protestar contra a falta de ética na
política,procurandocongregaroutras
pessoasquepensamcomoeles.Não
é um bom exemplo?
MARCO ANTONIO
– É. Mas o
exemplomais eloqüente – de que o
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“QUANDOSETIRAUM
FILMEDOAR,TIRA-SEO
ASSUNTODEPAUTA.”
“PENSARNÃOÉUMA
ESPECIALIDADEDO
BRASILEIRO,NEMDE
POVONENHUMDO
MUNDO.”