90
REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
Mesa-
Redonda
só ao julgamento dos meus pares,
elespodem terumavisãodeformada,
no que concerne à questão ética
mais geral.
JR
–Gostariadeouvir oRuy sobre a
questão publicitária.
RUY
– Ainda não falei pelo se-
guinte: tenhoparticipadodealgumas
discussões sobre a censura à propa-
ganda e sempre começamos pela
propaganda e terminamos na pro-
paganda. Oqueestá sendoditoaqui
refleteoBrasil.Quando sedizqueo
acesso à justiça é menor do que
deveria ser; quando se fala da
empregadaque–pormelhorqueseja
tratada – tem limites para onde ir,
emnossascasas,quandoessesdados
são trazidos à discussão, a
propaganda começa a inserir-se na
dimensão maior do país – um país
cheio de contrastes. Como a
propagandaéumaatividadeemque
vocêsóofereceoprodutoparaquem
o pode comprar, trata-se de uma
parceladapopulaçãoe,dependendo
do produto, até bem pequena. O
grande problema do Brasil, em
qualquer atividade – seja medicina,
direito, propaganda ou jornalismo –,
é o convívio do primeiro, segundo,
terceiro, quarto e quinto mundos.
Temos de fazer do país todo um
primeiromundo. Nossa propaganda
é reconhecida como de primeiro
mundo;nossoCódigodoConsumidor
poucos países têm; o CONAR é um
exemplo.Masháalgumascoisasque
podíamos discutir. Há o caso de um
comercial da Fiat, em que o
prisioneiro está saindo da prisão,
passaporum longocorredor,asportas
se fecham e ele começa a andar por
uma rua deserta, vira uma esquina e
vê um carro vermelho, lindo,
maravilhoso. Passa por ele e ouve-
seumbarulhodevidroquebrandoe
o alarme tocando. E a frase “Fiat,
impossível ficar indiferente”. Esse
filme ficou dois dias no ar e foi
retirado.Nãoqueroentrarnomérito,
se devia ou não ter sido retirado,
porque, quando se discute ética,
julgamentos, acho mais interessante
a discussão do que o resultado final
– apenaou a absolvição.Oqueme
chama a atenção é que, quando se
tira um filme do ar, tira-se o assunto
de pauta. Ou seja, se é um
desrespeito, em relação às pessoas
presas, reforçar uma idéia de
reincidência, então, na hora emque
se temo assunto empauta, tem-se a
oportunidadedesercontraoua favor.
Eliminado o comercial, o assunto
morre e vamos para o próximo. A
propaganda é uma profissão como
outras, que se insere num deter-
minado quadro da nossa sociedade:
emgeral, sóquem temdinheiropode
consumir. Mas precisamos ter uma
visãomais ampladopaís – inclusive
quando sediscutecensuraounãoda
propaganda. Vimos o presidente da
Câmara acusado de levar R$ 10mil
deumrestaurante;umex-governador
acusado de obter, ilegalmente, 300
quilos de ouro... Isso simme chama
a atenção: como conseguimos, no
país, ter regulamentos, códigos,
censuras, punições, leis que real-
mente funcionem? Quando a
propaganda é censurada, o que se
espera disso? O que isso pode
contribuir para este país imenso, de
enorme diversidade?
FRED
– A liberdade de expres-
são,como estamos discutindo aqui,
deveserumestímulooupensamento
e reflexão. Quando as coisas estão
nos meios de comunicação, espera-
