Maio_2005 - page 67

Leonardo
Trevisan
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S E T EMBRO
/
OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
nãomencionaosnúmerosdeestudo
referentes a 2003. A cada fusão,
óbvio, cai o número de jornalistas
empregados. Em 2004, segundo
Moyers, os jornais americanos
fecharam 2.200 vagas (Weis, 2004).
A concentraçãonamídia americana
assustaos congressistas e, por isso, o
assunto
ganhou
dimensão
internacional.
AOPORTUNIDADE
DANET.“VERDADE”
O debate pega fogo quando a
discussão chega ao terreno da
Internet, informação e liberdade de
expressão. Awebpodeaumentar ou
piorararecuperaçãodacredibilidade
dosmeiosdecomunicação?Não são
poucos os jornalistas que percebem
que o jornal diário, como nós o co-
nhecemos desde a Revolução
Francesa, está encerrando seu ciclo
biológico. Um jornalista do
Los
Angeles Times
construiu a imagem
de que os jornalistas de mídia
impressa se assemelham aos
integrantes do antigo
Politburo
da
Alemanha Oriental, em 1988, às
vésperas da queda do Muro de
Berlim: era um emprego excelente,
não faltavam convites para boas
festas, mas todo mundo notava que
havia “algo novo no ar”. E que seria
para breve (Martinez, 2005). Esse
jornalista citou estudo da
Carnegie
Corporation
; demonstrou que, em
2004, na faixa etária dos 18 aos 34
anos,apenas19%doshabitantesdos
EUA recorremaum jornalparaobter
notícias, enquanto44%acessamum
portal daweb para esse fim.
Ao contrário de prejudicar, essa
diversificação de fonte pode ser a
salvação da liberdade de expressão.
Principalmente quando as pressões
econômicas não favorecemmais o
negócio de publicar jornal. É efetiva
a possibilidade, aberta pela Internet,
para que o consumidor amplie sua
capacitação de interação com as
notícias de sua preferência. Públicos
bem segmentados já fazem
exatamente isso: cinéfilos conferem
opiniões em vários
sites
sobre seus
filmes favoritos.Nãoédiferentecom
osadeptosdedeterminadosesportes.
O jornal diárioé “consultado” como
mais uma fonte. Aliás, a rede está
garantindo reduçãodecustoemaior
independência informativa, inclusive
para os jornais.
Emmarço de 2005 três das maiores
editoras de jornais norte-americanos
(
Gannett, Knight-Ridder e Tribune
)
uniram forças e compraram três
quartos da
Topix.net
,
site
que
monitora mais de 10 mil fontes de
informação
on line
e funciona como
rede de notícias fornecidas por
sites
privados e de governos, no mundo
todo. A
Topix
oferece
links
diretos
para mais de 300 mil áreas de
interesse. Nessa rede, anúncios
podem ser colocados, estrategi-
camente próximos às notícias que,
naquele momento, estão recebendo
maisacessos.Todososgrandes jornais
americanosestão seaproximandode
sites
de informação
on line
desse tipo
(
Seelye
, 2005). É ummundo novo
para o vínculo entre notícia e
publicidade. Mas é também forma
nova e eficiente para proteger a
liberdade de expressão no ocaso do
jornal impresso, produto dos altos
custos de impressão edistribuição, e
da contaminação pela frivolidade
que vemdas novas formas demídia.
OLIVREDIREITODE
DEFESACONTRAA
“MÁ INFORMAÇÃO”
Desconfiar é preciso, mais do que
navegar, quando o assunto é
liberdade de informação. A Internet
pode ajudar a “checar” notícias,
cruzar dados, buscar confirmação.
Mas também na
net
é preciso de-
senvolver alguma habilidade para
proteger a capacidade de ler “com
desconfiança”, principalmente para
assegurar longa vida à liberdade de
expressão.
A rigor, o ideal seria que houvesse
um
manual
que nos ensinasse como
nos defender da má informação. O
mais curioso é que recentemente
apareceu ummanual desse tipo, de
boa qualidade e feito por quem tem
toda a autoridade para escrevê-lo.
Seu autor é William Safire, ele
mesmo, o colunista conservador do
Times
, autodenominadode “homem
de direita”. Porém, com uma
coragem e tanto para enfrentar o
poder. Por exemplo: em dezembro
de 2001, quando toda a mídia
americana calou, com medo da
reação do público, depois que o
presidenteBush cancelou liberdades
públicas em nome do combate ao
terrorismo, Safire escreveu o artigo
“Assumindopoderesditatoriais”,cujo
título dispensa explicações. Por
décadas assinou uma temida coluna
no
TheNewYorkTimes
.Quando se
aposentou, em janeiro de 2005,
escreveuuma última coluna chamada
“Omodocertode se ler umacoluna”,
apresentandoas regrasparaqueo leitor
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