Maio_2005 - page 68

Os
YesMen
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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
“não seja enganado” pelo autor.
A primeira delas é que o leitor fique
atento ao estratagema de usar citação
de uma figura liberal para justificar
ponto de vista conservador, ou vice-
versa.Depois,avisaaoleitorparanunca
procurar o tema do artigonoprimeiro
parágrafo. O bom
insight
de um bom
artigo aparece sópelomeiodo texto,
tantoparavalorizara informaçãocomo
para separar o leitor inteligente do
despreparado. Não caia também no
jargão jornalísticode insinuar um “por-
dentrismo”: simplesmente, ensinou
Safire, não vá atrás desse chamariz.
Quem está “por dentro” não precisa
insinuar isso: apenas dá informações
claras e úteis.
Safire avisou aos leitores para não
acreditar em artigos que tratam de
váriosassuntos.Elesapenasindicamque
oescritornãoconseguiusaberarespeito
doquedeveriaescrever, ou ficoucom
medo de tomar a difícil decisão de
escolherumassuntoentreváriosmenos
importantes.Procure semprepela fonte
da informação, em todos os textos,
mesmo que você confie no autor. A
pergunta“aquem interessaessanotícia,
ouessa fofoca?” ébásica.Nãocaiana
exibição de falsa intelectualidade, a
citação “ilustre” que de repente
aparece no texto. Também não se
deslumbrecomo“inesperado”notexto,
aquela “bola de efeito, no meio de
muitas jogatas fajutas”, porque
geralmente é indução ideológica para
incautos. Despreze diálogos pessoais
entre colunistas. E, quando ficar enfu-
recido com um texto, não reaja de
imediato com um
e-mail
desaforado.
Os colunistas, conta Safire, percorrem
esse tipo de ofensas com deleite,
dizendo “ah, peguei vocês”.
No último parágrafo da coluna, Safire
perguntouaos seus leitores seera justo
quealguémquedesfrutouda liberdade
de escrever por tantos anos “espallhe
seus segredos” (Safire, 2005). Esse
parágrafo talvez fosse uma espécie de
acerto de contas final em relação aos
colegas que o criticavam (ou
desprezavam), por suas convicções ou
posiçõespolíticas.Ou,apenas,sortedos
leitoresquerecebiamummanualsobre
como ler uma coluna.
Defender-se damá informação é uma
obrigação tão significativa quanto
proteger a liberdade de expressão.
Inimigosdestanão faltam, pelomundo
todo. Não é só o advogado brasileiro
quenãoquerveroseupolíticopreferido
criticadonarevistasemanal.Ogoverno
federal tentou, no final de2003, impor
umConselhoFederaldeJornalismoque,
na prática, teria poderes de decisão
sobre quando um jornalista tinha
infringido a ética da profissão ao
escrever sobrealgumassunto.Ou seja,
os amigos do rei iriam decidir sobre o
quetodosnóspoderíamosficarsabendo.
Nãoédifícilimaginaroqueosbrasileiros
não ficariam sabendocasooConselho
Federal de Jornalismo tivesse vingado.
Portanto, quando o assunto é
liberdade de expressão, só não vale
baixaraguarda.Emnenhumsentido.
Seja para não ser vítima do poder
totalitário, seja para não se sentir
maisumconvicto,conformadoe tolo
yes men
. Simplesmente porque, nos
dois casos, dói muito.
AUTOR
ES
PM
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LEONARDOTREVISAN
Professor da ESPM
ES
PM
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