Ensaio
Revista da ESPM
| julho/agostode 2012
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N
o Renascimento, para ordenar os vícios e
virtudes de forma plausível, Dante Alighieri
não teve outro recurso a não ser compartir os
juízosdevalores comDeus.
ADivinaComédia
(Editora 34, 1998) condena e absolve pecadores de acordo
comas enigmáticas orientações da Igreja e os esquecidos
critérios florentinos. O recurso à divindade ou a seus
intérpretes, benéfico para a métrica e a poesia, segue
alimentando convicções e seduzindo entendimentos,
mas não se presta ao pensamento filosófico.
Outra, mais racional e enfadonha, foi a solução aventada
porMaxFerdinandScheler(Munique,1874–Frankfurt,1928)
paraaordenaçãodosvalores. Filósofo eclético, Scheler foi
um dos pensadores mais influentes da primeira metade
do século 20. Hoje respeitosamente ignorado, ele propôs
uma hierarquia de valores que subsiste mais ou menos
intacta na apática literatura filosófica.
Filhodeuma famíliaburguesa, depai protestanteemãe
judia, Scheler foi vagamente deísta na infância, tornou-se
católico na juventude e panteísta na maturidade. Como a
orientaçãoreligiosa, asuafilosofiapassouporvárias fases,
espelhadas em livros como
Essência e forma da simpatia
(
Esencia y formas de la simpatia
, Salamanca-Sigueme,
2005), que trata do conhecimento simpático como origem
dacoesãosocial;
Oressentimentonaconstruçãomoral
(
Das
ressentiment im aufbau der moralen
, Klostermann, 1978)
queexpõeamágoacaracterísticadamoral cristãcomoum
venenopsicológicoqueprovocadeformaçãomaisoumenos
permanente nos valores;
A posição do homem no cosmos
(
Thehumanplaceinthecosmos
,MaxScheler,KarinS.Frin-
gs e Eugene Kelly, Northwestern University Press, 2008),
basicamenteumaafirmaçãopanteístadarealizaçãohuma-
Existemvalores que sãomais importantes
do que outros?Caso existam, qual a
hierarquia que lhes corresponde?
Ahierarquia
dos valores
Por Hermano Roberto Thiry-Cherques
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