julho/agostode2012|
RevistadaESPM
101
na de Deus; e
O sentido do sofrimento
, (
Ressentiment
, Max
Scheler, Lewis B. Coser eWilliamW. Holdheim, Free Press
ofGlencoe, 1961), queconsideraosofrimentocomo função
do sacrifício decorrente daquilo que temvalor inferior por
algo que tem valor superior, obrigando-nos a subordinar
a vida sensível a uma atividade espiritual cada vez mais
elevada. A hierarquia dos valores consta de seu livro mais
conhecido,
Oformalismonaética
(
Formalisminethicsand
non-formalethicsofvalues
,MaxScheler,ManfredS.Frings
eRogerL.Funk,NorthwesternUniversityPress,1973),cujo
título é autoexplicativo.
Naimpossibilidadedeinvocaropensamentodeumdeus
incertoevariávelparaexplicarosvalores,Schelerrecorreu
à fenomenologiadeEdmundHusserl. Estendeu-aparades-
crever relações entre conteúdos intencionais de que não
se pode predicar nem a inteligibilidade racional, como no
positivismo, nemo caráter lógicode sua assimilação cons-
ciente, como na fenomenologia original. Esses conteúdos
são os valores, que se oferecem à descrição com o mesmo
títulodelegitimidadequeoutrosobjetos,sendoatemporais
eabsolutamenteválidos.SegundoScheler,asessênciasdos
valores podemser alcançadas pelas emoções, dadas a nós
nonívelmaisbaixodafunçãopsíquica,noplanoondenosso
impulso vital atua cegamente. Apartir dessa base diáfana,
Scheler sustentou a existência de uma hierarquia objetiva
dos valores, fundamentada e apreendida pela emoção.
A teoria de Scheler é uma fenomenologia geral dos
afetos. Supõe que os valores são uma espécie de ser que
poderia ser apreendido de maneira evidente, não como
objeto de compreensão racional, mas como conteúdos do
sentir. Pelaexploraçãodo reinodosvalores sealcançariaa
esferadeobjetosque têmumaparticularidade irredutível,
distintadas leisda lógica. Chegar-se-iaàsessênciaspuras,
apriori
, intuídas emocionalmentenoâmbitodevivências
afetivas. Os valores assim definidos seriam objetivos,
absolutos e eternos na medida em que são anteriores aos
atos comque são apreendidos.
Segundoessaargumentação, cada indivíduoparticular
é formado (
bildung
) pelas essências e pelos valores que o
integram. Quemassimila os valores não é o ego ou indiví-
duo, mas a “pessoa”, capaz de benevolência e de piedade.
Daí que Scheler funde a hierarquia dos valores no reverso
do amor, no ressentimento pessoal, que descreveu da se-
guinte forma: “…ressentimentoéumautoenvenenamento
damente que temcausas e consequências bemdefinidas.
É uma atitudemental duradoura, causada pela repressão
sistemática de certas emoções e afecções que, como tal,
são componentes normais da natureza humana. Sua
repressão leva a tendência constante para certos tipos
de delírios de valor e juízos de valor correspondentes. As
emoções e afetos em causa são principalmente a vingan-
ça, o ódio, a maldade, a inveja, o impulso para diminuir e
ultrajar os outros”.
Da ideia da mágoa e da relação entre maior ou menor
amargura, Scheler extraiu a hierarquia fartamente disse-
minada, que contrapõe a transcendência pessoal (amo-
rosa, positiva e superior) ao ressentimento (desapiedado,
negativo e inferior). O livro
Da reviravolta dos valores:
ensaios e artigos
(Max Scheler, Vozes, 1984) detalha o
que, segundo o autor, muitos acreditam ser uma ordem
universal dos valores, constante e imutável, e que se dis-
põe da seguinte forma:
Hermano Roberto Thiry-Cherques
Pós-Doutor pela Médiation Culturelle, Université de Paris. Doutor em
ciência da engenharia, Coppe-UFRJ. Mestre em filosofia, IFCS-UFRJ.
Bacharel em administração, Ebap/FGV. Professor titular da FGV-Ebape e
pesquisador do CNPq/FGV
Max Scheler - hierarquia dos valores
valores
positivo
Negativo
Sagrado
Supremo
Profano
Moral
Certo
Errado
Estético
Belo
Feio
Lógico
Verdadeiro
Falso
Vital
Nobre
Vulgar
Sensual
Agradável
Desagradável
Útil
Necessário
Supérfluo
”…ressentimentoéum
autoenvenenamentodamenteque
temcausaseconsequênciasbem
definidas.Éumaatitudementalduradoura,
causadapelarepressãosistemáticade
certasemoçõeseafecções”