Revista ESPM JUL AGO 2012 - Comunicação Integrada espetáculo à procura de maestros - page 87

julho/agostode2012|
RevistadaESPM
87
E
ntre a
Teoria do Medalhão
, de
Machado de Assis, e a busca
atual para virar celebridade a
qualquer custo, passaram-se
140 anos e mais uma tonelada de avanços
tecnológicos e científicos, que poderiam ter
deixado o “bruxo doCosmeVelho” superado
em seus escritos. No entanto, a personagem
de Machado de Assis tem tudo a ver com a
mídia atual, lotada de gente “famosa por
ser famosa”.
Prossegueo texto, ao falar dapublicidade,
aplicada à pessoa física: “[...]
Uma notícia traz
outra; cinco, dez, 20 vezes põe o teu nome ante
os olhos do mundo
[...]”. Pronto, está criado o
conceito de rede social, assimcomo fica cla-
ra, desdeentão, a importânciado
networking
,
burilado comdeterminação e empenho, “[...]
quando a amizade pessoal e a estima pública
instigamà reproduçãodas feições deumhomem
amado ou benemérito
”.
Colocar-se em contato com o mundo
inteiro, falando cara a cara com cada um
que interessa, era o sonho utópico de todo
publicitário de alguns anos atrás, quando o
dito mais em moda, entre engraçado e ver-
dadeiro, era mais ou menos assim: “Metade
do que se anuncia numa campanha é jogado
fora, só que não sabemos qual metade”. E o
mais importanteéqueoclienteachavagraça
nisso e ainda pagava a conta.
Aindividualizaçãodamensagemeapossi-
bilidade da via de duasmãos entre o emissor
e o receptor são progressos que não podiam
ser vislumbrados naquela época, porque
dependiamde instrumentos nem cogitados
pelas mentes mais avançadas e criativas,
sema existênciada internet. Eis a razãopela
qual os futurólogos, apartirdeextrapolações
lineares, acabam errando feio, quando sur-
geminvençõesou influências impossíveisde
prever quando ainda estão distantes.
Há a história do cientista francês que,
impressionado com o crescimento das car-
ruagens circulando por Paris, em meados
do século 19, chegou à conclusão correta de
que a camada de esterco depositado pelos
cavalos nas ruas da cidade atingiria um
metro e meio por volta de 1950, sem poder
levar em conta o advento dos automóveis
movidos a gasolina.
O gênio Steve Jobs deu um salto mágico
na simplificaçãoepraticidadedos aparelhos
eletrônicos, desde que lançou o seu compu-
tador pessoal, oMacintosh. Acreditava que
o novo equipamento seria utilizado predo-
minantemente por professores e alunos
das universidades. Ficou surpreso quando
descobriu que uma quantidademuito supe-
rior às suasmelhores previsões procedia de
compras das empresas.
Nemseriapossívelimaginarqueoscompu-
tadores pessoais seriam ligados entre si, sem
a dependência do
mainframe
, dando origem
à forma de comunicação que uniu todos a
todo mundo, a internet. Um sistema que fora
criado para garantir a comunicação militar,
na contingência de umapagão total.
Voltadaparaaaplicaçãocivil,ahumanidade
podeagoravoarcomaimaginaçãosolta,apartir
dos
tablets
de várias origens, dos celulares que
substituemtodoorestoemaisoquevier.
A propósito, a revista
The Economist
traz,
emumadesuasúltimasedições, reportagem
sobre a Huawei (pronuncia-se, em inglês,
hwah-way), empresa número um do mundo
em equipamentos de telecomunicação,
destronando da liderança a sueca Ericsson.
Na capa, uma ilustração de um iPhone chi-
nês – commercado na casa das centenas de
milhões de aparelhos –, sendo fácil perceber
que do design original copiado de Steve
Jobs só faltou o símbolo da maçã. Se bem
que ninguém pode criticar os asiáticos pela
iniciativa, já que as peças dos aparelhos
ocidentais são fabricadas emontadas por lá,
sendo natural a ideia de criarmarca própria.
Sendo uma empresa de grande porte, com
140 mil funcionários, lucro acima de US$ 30
bilhões, a Huawei pode estar sendo ajudada
pelo governo chinês a ganhar contratos inter-
nacionais, como aconteceu na revolução dos
celulares na África, onde aparelhos chineses
debaixocustoservemmuitobemàpopulação.
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