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julho/agostode2013|
RevistadaESPM
“Ficomuito entusiasmadoquandovejoque alguns pro-
dutos brasileiros estão conquistando o mercado interna-
cional”,acrescentaojornalistaFlorestanFernandesJunior.
“Recentemente, caminhandoemumdosbairrosdistantes
de Barcelona, encontrei vendedores ambulantes pirate-
ando as sandálias Havaianas, comos dizeres: ‘Las Bahia-
nas, las legítimas brasileñas’. Esse é umcaso interessante
deumprodutobrasileiroqueestáconquistandoomundo.”
Capacitação nas relações internacionais, conheci-
mentodas diferentes culturas e prioridade para asmicro,
pequenas emédias empresas são alguns dos caminhos
para transformar a economia brasileira, como demons-
tra o escritor Dowbor. “É crédito como fomento. Não é
crédito como sistema especulativo. Finanças é ummeio.
Ummeionãodeve servir oprópriomeio, deve servir para
o desenvolvimento da sociedade.”
“Hoje é possível notar que a pequena empresa está
fazendo o papel social de redistribuição e inclusão de
renda”, informa Kirszenblatt.
Novos canais emecanismos para a participação popu-
lar direta e coletiva, compartilhamento da informação e
democratização da comunicação no país são fundamen-
tais para pensar um futuromelhor. Asmanifestações de
junho de 2013, que levarammilhões demanifestantes às
ruas de todo o país, indicamde forma difusa a demanda
por sistemas de qualidadenas áreas de educação e saúde,
umtransporte público eficiente e uma política commais
transparência. Sinais de que há mudanças no compor-
tamento do brasileiro
—
não apenas como consumidor,
mas tambémcomo cidadão. ParaNassif, quando alguém
tenta trazer o novo à tona, esbarra numenvelhecimento
generalizado das instituições brasileiras. “Três pilares
ajudam a trazer essas novas ideias à tona: os partidos
políticos; a própria universidade com suas estruturas
hierarquizadas; e a mídia, que possui uma pauta muito
restrita emrelação à complexidade dopaís.Mas noBrasil
esses três pilares, que ajudama divulgar o novo, a fazer
as relações e a atrelar o passado ao futuro, estão comple-
tamente obstruídos”, ressalta o jornalista.
Seguindo amesma linha de pensamento, Dowbor cita
a importância de se democratizar o acesso ao conheci-
mento. “Quando o conhecimento é o principal fator de
produção, passa a ser a grande avenida de acesso à gera-
ção de equilíbrio e ação produtiva.”
Diante de questões tãodesafiantes, destacamos o con-
ceito da diversidade da cultura brasileira como eixo cen-
tral de um possível novo modelo, que foi levantado pelo
professor João Figueiredo, da ESPM, mediador de uma
dasmesas do evento de Paraty. Inspirado pelas ideias de
Celso Furtado, reunidas no livro
Ensaios sobre cultura e
o Ministério da Cultura
(Editora Contraponto, 2012), ele
defende a cultura como um fim e a economia como um
meio. O que nos coloca diante de uma grande oportuni-
dade, poisaenormediversidadecultural, característicado
Brasil, pode, neste século21, seconfigurar nomais impor-
tante ativododesenvolvimentodenossas cidades. Ainda
mais se tivermos emmente o queCharles Landry chama
de “cidade criativa”, no livro
The creative city: a toolkit for
urban innovators
(Editora Routledge, 2008). Ao conside-
rar as cidades como espaços de criação, e não apenas de
fabricação, o autor vislumbra, por meio da valorização
das culturas locais, o surgimento de cidades criativas de
todos os tamanhos e em todos os lugares do país. Cria-
tivas, mas também justas e sustentáveis, como destaca
Oded Grajew, um dos idealizadores da Rede Nossa São
Paulo, ao lembrar que cerca de 85% da população mun-
dial mora emambientes urbanos, o que torna as cidades
fundamentais para pensar um futuro com qualidade de
vida para todos, e não só para alguns.
Parece mais promissor, portanto, pensarmos o Brasil
não como “emergente” rumo ao Primeiro Mundo num
cenário compapéis predefinidos, mas como umpaís que
busca se apropriar criticamente da posição que ocupa no
mundo. É a ideia de assumir o protagonismo do presente
e do futuro que batemà nossa porta!
Isis de Palma
Educadora, diretora da Imagens Educação,
responsável no Brasil pelo Fórum Internacional Ética e
Responsabilidades e organizadora do Refletir Brasil
Oriana Monarca White
Pesquisadora, diretora da CPM Research, professora
do MBA Fundace/USP e organizadora do Refletir Brasil
Ricardo Zagallo Camargo
Professor e diretor do Centro de Altos Estudos da ESPM
*Colaboraram na redação do texto:
Ricardo Carvalho, Cesar Kirszenblatt, Domenico
De Masi, Florestan Fernandes Jr., João Luiz de
Figueiredo, Ladislau Dowbor, Luis Nassif, Massimo
Canevacci, Nelton Miguel Friedrich e Thiago Mundano